Fizemos a transcrição de um trecho de uma entrevista com o sociólogo francês Edgar Morin, concedida à Fronteira do Pensamento, onde ele fala da complexidade do ‘eu’ e de três  aspectos que são efetivamente inseparáveis para definir o ser humano. São eles:

1. O egocentrismo – O indivíduo é a autoafirmação do “eu”, da subjetividade. Ou seja, onde ele é plenamente ele mesmo. Então, há dois aspectos fundamentais. Há um que é “eu”,  e que está no princípio do egocentrismo, eu me coloco no centro do meu mundo, e, claro, vejo, ajo, em função de meu interesse pessoal.

2. O altruísmo – Mas, felizmente, há um segundo princípio antagonista que se encontra no indivíduo e que se manifesta desde o nascimento, ou seja, a necessidade do outro, de sorrir, de ser embalado, ou seja, a necessidade de estar em um “nós”. Um “nós” que é comunidade de amor.

3. A cultura – O terceiro é que, se tratando de indivíduos e havendo um mínimo de autonomia cerebral, nós somos inteiramente, não somente um produto de um processo de reprodução, mas os produtores desse processo. Porque, até hoje, ainda, é necessário que haja um homem e uma mulher que possam, juntos, fazer um ou mais filhos. Então, o próprio fenômeno de ter uma mãe e um pai, ou filhos, ou irmãs, é um fenômeno que nos liga à espécie humana. Além disso, somos quase possuídos pelos processos inconscientes, que são todos processos de nosso organismo, nosso coração, nosso pulmão, o sangue que circula, o funcionamento do cérebro faz com que sejamos inteiramente possuídos, digamos, pela espécie humana, ou seja, o que nos permite nos alimentarmos, viver, etc., e, ao mesmo tempo, somos possuídos pela sociedade, porque recebemos a linguagem, recebemos a cultura, que se colocam no interior de nós mesmos, o que quer dizer que, não somente os indivíduos estão na sociedade, mas a sociedade está no interior deles. Não somente os indivíduos estão no espaço, mas o espaço está no interior deles.

Excertos da transcrição do vídeo abaixo.






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