“Você precisa ser menos ansioso”. Se eu ganhasse dez reais por todas as vezes que ouço isto, estaria escrevendo agora de um avião rumo à Londres. É que os amigos, as pessoas mais próximas e a sociedade como um todo começaram, de um jeito bizarro, a achar que a ansiedade é como o volume de uma música que toca na playlist do celular e eu posso, simplesmente, abaixar. Deixar inaudível. Me tornar imune ao som, aos efeitos, às sensações.

Não é fácil deitar na cama para descansar e rever todas as falas do dia, as decisões tomadas e todas as outras que preferi me abster, não ter, não tomar, ignorar. Não é fácil deitar na cama para relaxar os músculos e se ver tenso, rígido, nervoso por coisas que ainda não aconteceram, por coisas que eu queria que acontecessem e por tantas outras que sei que, humanamente, são impossíveis de acontecer.

A vida de um ansioso não é o drama que muitos pensam. É a inquietude no coração que poucos sentem. É, justamente, sentir que a sua cabeça não para sequer um segundo. Enquanto os olhos estão abertos, os pensamentos estão acelerados, os casos estão criados, as cenas são vistas em flashes, diálogos são pensados, modificados, remodificados, situações são inventadas e o pior de tudo é que tudo é real. Não são pesadelos que a gente abre o olho e pensa – ufa, era só um pesadelo. São sentimentos tão reais quanto um corte à faca quando se está descascando uma maçã.

Diversas são as dicas que, volta e meia, alguém me dá – ah, faz Yoga – ou – você já tentou tomar florais? Cara, pensando bem, tudo isso pode até surtir algum efeito, mas o que a gente precisa mesmo é reaprender a lidar com os nossos sentimentos, reconhecer quem somos. Redescobrir isso. É que o fluxo dos dias, das vontades, dos sonhos está rápido demais, e, pense comigo, se nós ansiosos já somos ligeiros em pensamento, imagina o turbilhão de emoções que é viver num mundo que é cem vezes pior?

E então, por fim, você pode me perguntar – o que posso fazer para te ajudar? –me abrace. Não me peça para mudar como se fosse fácil, simples ou como se tudo que eu sinto fosse ridículo demais para ser sentido. Eu já me autojulguei dessa mesma forma e garanto – eu não controlo a minha ansiedade, aceite isso.

Tudo que um ansioso menos precisa é de dedos que apontem os erros. Use a mesma mão para me dar carinho. Me aceite, assim como eu tenho tentado fazer. Sei que não é fácil se ver no epicentro de um terremoto, mas se eu que já sinto os abalos aos troncos e barrancos tenho seguido, você que só me vê tremer pode também me envolver em seus braços para diminuir a minha pressa e me fazer, ao contrário de todo o restante do tempo, não querer mais que o tempo passe.

Texto de Mateus Rocha extraído de EOH – site que recomendamos a visita.






As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.