Do que não sei – imagino. O que imagino para mim? Quais são meus sonhos? Quais as minhas ilusões? O que sei? O que sei sobre mim? Qual a minha teoria sobre a vida? O que sei sobre o mundo? Preciso urgentemente parar de imaginar. Não devo mais pensar.

Devo deixar esse EU. Não sou esse EU que imagino e penso. Sou o que me é permitido imaginar e pensar. Existe o político e as políticas. Sou as políticas. Quando posso ser EU? Quando eu me permitir verificar o quanto minhas ilusões são inócuas. Quando eu me permitir realizar a experiência de tornar o lugar do saber como inteiramente inconsistente. Quando eu conseguir criar algo totalmente resistente ao pensar e ao imaginar que me foram impostos.

Nenhum EU é uniforme. Não somos um objeto natural constante e regular. Somos invenção. Somos significantes flutuantes. Este lugar do imaginar e do pensar deveria se tornar um lugar vazio que não deveria ser ocupado – hegemonicamente – por nenhuma posição.

A sociedade não deveria existir. O espaço político precisa ser ocupado pela contingência e não pela exclusão ou pela eliminação das posições que denunciam a sua falha. Somos usualmente condicionados a nos fixarmos em determinados modos de gozo. Viramos presas fáceis para certos circuitos de gozo. Somos o tempo todo identificados a posições ou alienados a lugares. Preciso começar a existir para além desses circuitos, identidades, posições e lugares. Preciso começar a existir depois da sociedade e da cultura. Preciso ser EU – de fato.

“Identidade não se herda, crie a sua”. Sygmunt Bauman

Texto de Evaristo Magalhães – Filósofo e Psicanalista.
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