Em um de seus mais famosos poemas, William Blake escreveu que para ver um mundo em um grão de areia, devemos segurar o infinito na palma da mão e a eternidade em uma hora. Seria isto possível?
Às vezes, me distraio observando o mapa cronológico evolutivo do planeta Terra. Sigo os contornos das longas eras geológicas, leio seus nomes e contemplo a sublime imensidão da existência, permitindo que ela invada minha consciência e reajuste a percepção que tenho sobre nossa presença no aqui e no agora.
A sensação é de pertencimento, mas o exercício é, digamos, uma calibragem de perspectiva. Olhando a espiral de tempo que vai ficando cada vez mais ampla, cada vez mais complexa, que se expande para longe de seu epicentro, de seu sopro inicial, é necessário um esforço de boa-vontade para localizar a mirrada fatia que compreende à história da humanidade e dizer as palavras “estamos aqui”.
Quando fecho os olhos, experimento a sensação de estar imersa em um oceano de continuidade, ou suspensa em uma teia de referências e conexões tecida não pelas anciãs fiandeiras da mitologia grega, mas por milênios de revoluções individuais e coletivas.
Visualizo as infinitas transformações que ocorreram no espaço físico a que chamamos carinhosamente de lar. Penso em como o ambiente, que hoje sabemos globalizado, serviu e continua servindo de palco para o surgimento, perseverança e queda de incontáveis civilizações, suas filosofias e infinitas interpretações a respeito do universo, da vida e de seu significado.
Gosto de refletir sobre esse ciclo de auroras e crepúsculos. Imagino que é o reconhecimento da impermanência que nos permite construir uma percepção singular de tempo, segmentando-o em passado, presente e futuro. Destes três, dois são terrenos nebulosos e voláteis; o outro é a moldura nossa de cada dia.
Penso que são as perguntas, e não necessariamente as respostas, que fazem a humanidade avançar, procurar alternativas, ir além de suas próprias limitações. Por menor que seja nosso espaço no tempo quantificável e por mais limitada nossa perspectiva, o que nos impulsionou através da cascata dos séculos foi justamente a ausência de certezas, os questionamentos, as múltiplas tentativas.
A habilidade de questionar dita o ritmo de nossos passos na busca pelo paraíso que imaginamos perdido, nos leva a explorar o domínio do novo, do desconhecido. Talvez segurar o infinito na palma da mão não seja mais do que a busca pelo equilíbrio entre o macro e o microcosmo, entre um grão de areia e o universo, entre um instante e a eternidade que nele reside.