Para Sigmund Freud, a felicidade é uma experiência frágil, efêmera, muitas vezes confundida com a ausência de dor. Em seu texto “O mal-estar na civilização” (1930), Freud sugere que a existência humana está inevitavelmente atravessada pelo sofrimento. A busca pela felicidade, para ele, se torna uma tentativa constante de evitar a dor e o desprazer. Ainda assim, o que conseguimos, na maior parte do tempo, são pequenas doses de satisfação, ou seja, uma felicidade ordinária.
Vera Iaconelli, psicanalista, escritora e colunista da Folha de S.Paulo, em seu livro “Felicidade Ordinária”, defende que a felicidade idealizada e prometida pela sociedade de consumo é ilusória e adoecedora. Em contrapartida, a autora propõe o respeito e valorização de momentos simples, autênticos e até, por vezes, dolorosos da vida real.
Em suas palavras, Iaconelli nos recorda que viver não é performar plenitude, mas abraçar a vulnerabilidade como parte da experiência humana e que felicidade é algo raro, particular, íntimo, espontâneo e, muitas vezes, acessível apenas nos detalhes:
“O sofrimento ordinário é parte inseparável da vida e, ao aceitarmos nossas vulnerabilidades, podemos vivenciar a felicidade — sempre episódica — sem culpa e não como um estado permanente a ser alcançado. Viver não é performar plenitude, mas abraçar a vulnerabilidade como parte da experiência humana. A felicidade é íntima, rara, espontânea e na maioria das vezes, acessível apenas nos detalhes
O Estudo de Desenvolvimento Adulto de Harvard, iniciado em 1938, é considerado o mais longevo e profundo estudo sobre a felicidade humana. A pesquisa acompanhou centenas de pessoas ao longo de mais de 80 anos e revelou um dado fundamental: a qualidade dos nossos relacionamentos é o fator mais determinante para uma vida feliz.
Ao contrário da crença popular de que riqueza, fama ou sucesso profissional garantem felicidade duradoura, os cientistas descobriram que é o vínculo afetivo, a conexão emocional e o sentimento de pertencimento que mais impactam nosso bem-estar físico e mental. Felicidade, portanto, não é um destino, mas um caminho que se constrói nos encontros cotidianos.
1. Reconheça que sofrer faz parte da condição humana
Evite a armadilha da positividade tóxica. A dor, o fracasso, a perda e a angústia fazem parte do viver. Aceitar isso é se libertar da obrigação de estar sempre bem.
2. Diminua o ideal de perfeição
A felicidade não está em uma vida perfeita, mas nos pequenos momentos de sentido. Permita-se errar, descansar, não saber.
3. Valorize os laços afetivos
Invista tempo e presença nas suas relações. Elas são a maior fonte de alegria duradoura, como comprova o estudo de Harvard.
4. Cultive momentos de pausa e contemplação
Silenciar o barulho interno e externo pode abrir espaço para perceber o que realmente importa.
5. Desconfie da promessas de felicidade pronta
Desconfie de quem vende felicidade como produto. Ninguém é feliz o tempo todo e tudo bem assim.
Num mundo apressado e ruidoso, pode parecer banal contemplar uma flor, o vento no rosto ou uma conversa com um amigo. Mas é justamente nesses detalhes que mora a felicidade ordinária. A existência ganha cor quando permitimos que o cotidiano nos emocione: o brotar de uma planta depois da chuva, o café coado ao lado de quem se ama, um poema, uma música, a interação lúdica com amigos e/ou familiares, manifestações artísticas ou esportivas…A felicidade está nos detalhes e nos encontros. E só quem aceita o sofrimento ordinário pode se abrir, sem culpa, aos milagres cotidianos de estar vivo.
Fontes e leituras sugeridas:
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