“Onde foi que você deixou a criança que brincava numa poça d’água como se navegasse num oceano?”, é o que pergunta a escritora e neuropsicopedagoga, Clara Dawn, ressaltando que brincar na lama aumenta a atividade cerebral e estimula o desenvolvimento das habilidades motoras.
A especialista afirma que para brincar na lama, a criança usa os músculos menores das mãos, pulsos, dedos das mãos e dos pés, apertando, escavando, misturando e despejando. Esses músculos menores se fortalecem, preparando-a para a escrita, ao mesmo tempo em que a saúde física integral e a saúde psico-socioemocional são afetadas positivamente. Segundo ela, até os bebês podem se beneficiar dessa brincadeira guiada por uma tutoria responsável.
O microbiologista Jack Gilbert, coautor do livro: “A sujeira é boa: a vantagem dos germes para o desenvolvimento do sistema imunológico do seu filho” dedicou sua carreira a estudar como os microrganismos do ambiente moldam o sistema imunológico e o comportamento humano. Em entrevista à BBC Science Focus, Gilbert afirmou que “a obsessão moderna pela limpeza excessiva e pelos produtos antibacterianos está desconectando as crianças da ecologia microbiana que sempre sustentou nossa espécie”.
Ele explica que o solo vivo contém trilhões de bactérias benéficas, fungos e vírus que ensinam o sistema imunológico a diferenciar o que é perigoso do que é seguro. Essa convivência, segundo ele, “é o que nos mantém vivos, equilibrados e emocionalmente mais estáveis”.
Entre as bactérias amigas, uma das mais estudadas é a Mycobacterium vaccae, presente em solos naturais e lama fresca. Pesquisas mostram que ela estimula a produção de serotonina, o neurotransmissor associado à sensação de bem-estar e regulação emocional. Gilbert observa que, ao brincar em contato com a natureza, as crianças não apenas fortalecem a imunidade, mas também experimentam um tipo de calma e alegria visceral: uma felicidade primal, conectada à vida microscópica que compartilha o planeta conosco.
Em suas palavras: “As crianças que brincam com terra, areia, plantas e animais desenvolvem um sistema imunológico mais inteligente. Não se trata de sujeira, mas de convivência com o mundo invisível da ciência microbiana que sustenta a vida”. (Jack Gilbert à BBC Science Focus Magazine, 2019)
Gilbert critica o que chama de “higienismo ansioso”, em que o medo do micróbio leva a um isolamento microbiano perigoso. Ele alerta: “Estamos criando ambientes estéreis que sabotam o próprio processo natural de fortalecimento imunológico e emocional”. Em vez disso, defende o reencontro com a sujeira boa: aquela que vem da natureza, do solo fértil e do brincar livre.
Em resumo: quando a criança brinca na lama, ela está treinando seu corpo e seu cérebro para viver em harmonia com a Terra. A ciência de Gilbert confirma o que a intuição materna e o olhar psicanalítico sempre souberam: a criança que se suja é também a que se cura.
É claro, você não permitirá que seu filho brinque numa enxurrada ou numa poça d’água que está num lugar cheio de impurezas e toxidades químicas. É recomendável que você faça a lama. É muito fácil: pegue um pouco de terra de boa procedência (pode ser areia ou argila) e misture com água. Use pouca água para fazer barro ou bastante água para fazer lama. Para deixar mais divertido e agregar à experiência sensorial, misture objetos como pedras, bolinhas de gude, conchas, folhas, galhos e outros elementos naturais.
Ao pensar na bagunça e na sujeira, lembre-se: a lama vai embora depois de lavar, mas as memórias afetivas e o aprendizado ficam para sempre.
Brincar na lama não é apenas uma maneira de criar memórias preciosas, mas também de aprender sobre o mundo, o corpo e as emoções, desenvolvendo habilidades físicas, sociais, cognitivas e emocionais.
A seguir, 10 benefícios cientificamente respaldados dessa experiência ancestral:
Depois de brincar, convide a criança a limpar-se com calma, transformando a água em aliada do aprendizado: um segundo ato de cuidado após o mergulho na terra.
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