As listas parecem uma fixação “pós”-moderna. Embora existam desde sempre. O que é um curriculum senão uma lista que deve ser seguida por professores e alunos, com o fito de se divulgar uma formação cultural esperada ou desejada? Listas, já se disse, são a expressão das idiossincrasias do autor ou, no limite, do momento em que este constrói a lista. O exemplo-limite disso seria o de Scott Fitzgerald, escritor norte-americano, que, em 1935 e estado de moribundo, usou a palma da mão de uma enfermeira para rabiscar uma lista de 22 livros que seriam de leitura obrigatória. Apenas um autor vem repetido naquela lista: Marcel Proust.
Outras listas vêm se acumulando ao longo do tempo: a de Vargas Llosa, por exemplo, para quem quer aprender a escrever – e que muitos tomam como livros decisivos!
No nosso caso, geramos um projeto mais simples, que além de listar, gera um documento de áudio. Usando como forma de reprodução o Sarau “730” (da rádio homônima), pretendemos gravar os 100 poemas essenciais. Estes são divulgados também no SoundCloud, software gratuito para divulgação de música e poesia. Um dos capítulos mais esperados da lista é o dedicado aos Poemas de amor.
Começo com Cora Coralina, Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana que foram divulgados no especial do Dia dos namorados. Você pode ouvi-los declamados, aqui.
Poeminha Amoroso – Cora Coralina
Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu…
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu…
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo…
eu te amo, perdoa-me, eu te amo…
As sem razões do amor – Carlos Drummond de Andrade
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
Bilhete – Mario Quintana
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…