A gente quer dar conta de tudo. Carregar o mundo nas costas a fim de cumprirmos mais do que nossas obrigações. Entretanto, dar conta de tudo é ótimo para todos menos para nós mesmos. Definir limites para si mesmo é um ato de amor, cuidado e respeito próprio. Os limites são cobertos por um auréola negativa. O mundo ao nosso redor nos diz que não devemos estabelecer limites. Que os limites estão apenas em nossa mente. E que podemos alcançar tudo o que nos propusemos a fazer.

No entanto, esse discurso tem dois pontos fracos. Em primeiro lugar, os limites não estão exclusivamente em nossa mente e, em segundo lugar, de vez em quando é importante estabelecer limites para nós mesmos, para nos protegermos. Do contrário, provavelmente acabaremos sofrendo do cansaço do “eu”, referido pelo filósofo Byung-Chul Han.

“Nesta sociedade de obrigações, cada um carrega consigo seu campo de trabalhos forçados”, escreveu Han, referindo-se à nossa tendência de exigir cada vez mais de nós mesmos, em busca da produtividade e do sucesso, enquanto o silêncio e o descanso se tornam luxos que recusamos e mergulhamos em atividades febris.

O esforço excessivo causa um ataque cardíaco na alma

Os limites nada mais são do que um conjunto de normas ou diretrizes com as quais nos comprometemos para não irmos além do que seria sensato ou conveniente. O principal risco de não impor limites em uma sociedade que nos pressiona constantemente para ir mais longe é nos tornarmos vítimas e algozes de nós mesmos.

Ter o desejo de melhorar e aspirar a prosperar é positivo. O problema começa quando nos esforçamos cada vez mais sem nos dar uma pausa, sem estabelecer limites saudáveis, obrigando-nos a dar sempre um passo adiante, mesmo que não sejamos muito claros sobre o motivo desse esforço. O problema é não saber distinguir entre exceder e exigir demais.

Esta situação conduz-nos a um “cansaço fundamental”, que não é um simples cansaço físico mas sim um cansaço da alma. Esse esgotamento psicológico, esse “não poder” acaba gerando frustração e muitas vezes leva a uma autocensura destrutiva. Sentimo-nos como fracassados. Com isso, a falta de limites que, em tese, deveria ser um desenvolvedor, acaba nos condenando a uma insatisfação vital.

Limites como expressão de amor e respeito por si mesmo

Os limites saudáveis, por outro lado, nos impedirão de exigir tanto de nós mesmos que acabemos desmoronando sob o peso de obrigações e compromissos que não podemos cumprir. Eles impedirão que o trabalho controle nossas vidas. Eles nos permitem assumir o comando e dizer “não” quando não queremos algo e “sim” quando queremos ou precisamos. Diga “chegamos até aqui” porque não precisamos nem queremos ir mais longe. Limites saudáveis ​​são, em última análise, um ato de empoderamento.

Esses tipos de limites que nos colocamos não são negativos, pelo contrário, são um ato de amor e respeito. Eles indicam que não precisamos correr atrás de nenhum imperativo social porque temos clareza sobre nossos objetivos. Esses limites, portanto, nos mantêm mais seguros e saudáveis ​​e podem até nos permitir aproveitar mais a vida assumindo uma atitude mais relaxada e consciente.

Texto adaptado de Jennifer Delgado, via Rincón de la Psicología






As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.