A psiquiatra Dra. Ana Beatriz Barbosa, conhecida por sua linguagem acessível e por aproximar a psiquiatria da vida cotidiana, publicou recentemente em suas redes sociais uma reflexão profunda sobre um tema que afeta milhões de mulheres: a confusão entre os sintomas da menopausa e os sinais de uma depressão real. Em um post dividido em cards, ela trouxe uma verdadeira aula sobre como o declínio hormonal pode mascarar quadros depressivos e atrasar o tratamento adequado. A seguir, o texto completo publicado por ela:
“Mulheres na perimenopausa têm risco aumentado de desenvolver depressão, com confusão diagnóstica frequente. Um estudo com quase 4 mil mulheres mostra algo surpreendente: apenas 28% têm causa exclusivamente hormonal. 72% têm depressão clínica real mascarada pela flutuação de estrogênio. Vamos entender essa armadilha.
Insônia, fadiga e irritabilidade aparecem tanto na menopausa quanto na depressão com frequências quase idênticas. É o corpo falando uma linguagem parecida para problemas diferentes. No consultório, vejo isso o tempo todo: mulheres que passaram anos achando que era ‘fase da menopausa’ quando havia uma depressão real pedindo socorro. A diferenciação não pode ser feita no achômetro. Precisa de avaliação cuidadosa.
O estrogênio modula a serotonina de forma significativa. Quando ele cai na menopausa, a disponibilidade de serotonina no cérebro também despenca. Por isso os sintomas imitam depressão de maneira tão convincente. Mas aqui está a diferença crucial: depressão clínica envolve também outros sistemas de neurotransmissores que são independentes do hormônio. Não é só estrogênio em jogo.
43% das depressões que surgem depois dos 40 são o primeiro episódio da vida. Não é recaída, não é ‘menopausa mexendo com a cabeça’. É depressão de início tardio chegando pela primeira vez. Os fatores? Ninho vazio, crise existencial do ‘quem sou eu agora?’, vulnerabilidades genéticas que estavam adormecidas e acordaram. A menopausa pode ser o gatilho, mas raramente é a causa inteira.
Quando tratada apenas com reposição hormonal, a depressão persiste em 71% dos casos. E pior: os sintomas depressivos não tratados aumentam o risco cardiovascular em mais do que o dobro. Não é ‘frescura hormonal’. Não é exagero. É saúde mental e física em risco real. O diagnóstico correto pode salvar não só a qualidade de vida, mas a vida mesmo.
Baseado em diretrizes de 2024: testar reposição hormonal isolada por 12 semanas. Se não houver remissão completa dos sintomas, adicionar antidepressivo. A combinação de reposição hormonal com antidepressivo tem taxa de resposta de 78%, contra 49% da reposição isolada. É o sinergismo entre hormônio e psiquiatria funcionando junto.
Anedonia, que é a perda de prazer nas coisas, não é sintoma da menopausa.Se presente, há 89% de probabilidade de depressão comórbida. Pergunte a si mesma: Parei de gostar do que eu gostava? As coisas que me davam alegria viraram um ‘tanto faz’? – Se a resposta for sim, não é só hormônio. É o cérebro pedindo outra camada de cuidado.
2 a 4 anos de sofrimento desnecessário até conseguir reavaliação psiquiátrica. Perda da janela terapêutica porque depressão não tratada cronifica em 41% dos casos. Impacto de 34% na escala de funcionalidade, ou seja, na capacidade de viver bem. São anos que não voltam. Anos achando que é ‘normal da idade’ quando não era.
Perguntas honesta para você: Você teve sintomas atribuídos à menopausa que não melhoraram com reposição hormonal? Quanto tempo levou para considerar avaliação psiquiátrica? Ou você ainda está nessa dúvida agora?
O texto da Dra. Ana Beatriz revela um aspecto que transcende o campo da medicina. Aos 40 e poucos anos, muitas mulheres não enfrentam apenas um desequilíbrio hormonal, mas também um desequilíbrio simbólico: uma crise silenciosa de identidade e de sentido.
É o momento em que o corpo deixa de responder como antes, e a mente começa a buscar novos contornos para o existir. Não é raro que, junto da menopausa, surja o luto da juventude, o ninho vazio, a revisão da vida conjugal ou o esgotamento profissional. A depressão, então, não nasce apenas da falta de estrogênio, mas da falta de significado.
O corpo fala por meio dos sintomas, mas a alma grita em silêncio.
A psicanálise chamaria esse momento de reorganização do desejo, um tempo de reconstruir a si mesma para além dos papéis de mãe, esposa, profissional ou cuidadora.
E talvez essa seja a mais profunda das transformações da meia-idade: descobrir que ainda há vida, prazer e criação depois das perdas.
1. Escute o corpo e a alma ao mesmo tempo
Não reduza seu sofrimento a “hormônios” ou “idade”. Faça exames, sim, mas também pergunte-se o que dentro de você está pedindo atenção.
2. Recrie o propósito da vida
O sentido não está no que você faz, mas no porquê faz. Encontre novos significados, projetos, aprendizados e formas de ser útil.
3. Busque ajuda especializada
Um bom psiquiatra e uma boa psicoterapia são investimentos em vida. Tratar-se não é fraqueza, é lucidez.
4. Cultive o movimento e o vínculo
O corpo precisa se mover e se sentir pertencente. Caminhar, nadar, dançar, jardinar, conviver. A vida quer movimento e presença.
5. Pequenas alegrias salvam
Não espere grandes revoluções. O prazer está em gestos simples: um café ao sol, um banho demorado, uma conversa sem pressa, uma música antiga. Essas pequenas doses de alegria são verdadeiras vitaminas emocionais.
A menopausa é biológica. A depressão é existencial. As duas podem coexistir, mas não devem ser confundidas. Reconhecer a diferença é um gesto de amor e de autocuidado. Como lembrou a Dra. Ana Beatriz, “não é frescura hormonal, é saúde mental e física em risco real”. E quanto mais cedo essa verdade for compreendida, mais cedo a mulher poderá reencontrar o eixo da sua própria vida, um lugar onde corpo e alma caminham juntos, sem culpa, sem silêncio e sem medo de recomeçar.
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