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Entretenimento sob demanda: a personalização absoluta no lazer

Houve um tempo no passado em que o lazer era uma atividade, de certa forma, coletiva e sincronizada: as famílias se reuniam ao redor da TV e as pessoas ouviam a mesma música no rádio mesmo em cidades diferentes. 

Essa era, no entanto, ficou para trás. Se antes o lazer tinha um fator comunitário, agora quem dita a regra é a personalização, com a era do entretenimento sob demanda.

Com um simples toque na tela, podemos escolher o que, como, quando e onde consumir, moldando experiências que refletem nossos gostos individuais. Mas o que essa mudança representa em termos de comportamento, possibilidades e cultura?

Mudou a tecnologia, mudou a cultura

Não tem como começar a discussão sobre a personalização do entretenimento no Século XXI sem falar sobre a mudança tecnológica que propiciou essa ruptura. Afinal, aqui, é possível enxergar a alteração cultural na evolução tecnológica.

Por muito tempo, o fator coletivo do entretenimento foi definido pela limitação tecnológica. Não tinha como a TV, rádio ou cinema fazer uma programação para cada pessoa, então a programação era pensada para públicos genéricos e diversos.

Mas, agora, cada pessoa tem a sua própria tela em mãos: existem mais celulares ativos do que habitantes no Brasil, fato que demonstra o nível de proliferação dos smartphones. Quando cada um tem sua tela, a escolha de entretenimento fica mais individual.

É uma questão de números

Além da individualização dos meios de consumo de entretenimento, outro fator contribui para a era do lazer sob demanda: o aumento na produção de obras culturais, como filmes, seriados, games, livros, músicas e outros.

Para se ter uma ideia, mais músicas foram lançadas a cada dia de 2024 do que em todo o ano de 1989, em um ritmo de mais de 100 mil canções por dia. A abundância se reflete em outros segmentos também.

Hoje, cada pessoa tem um vasto leque de opções para se entreter com base em gênero, estética, tempo disponível ou tipo de desafio. Caso queira jogar, basta entrar em uma plataforma de cassino para encontrar milhares de slots e jogos interativos com diferentes temáticas, níveis de dificuldade, ambientações visuais e estilos de jogabilidade. Tudo, claro, projetado para atender a perfis diversos de usuários, sem impor uma experiência única e fixa. 

Isso acontece porque produzir uma opção de entretenimento, hoje, é mais fácil, rápido e barato do que nunca. E, muitas vezes, basta um computador ou celular para conseguir criar o próximo hit da música ou o próximo grande sucesso dos games.

A personalização como opção de identidade

Com a quantidade e variedade de opções de entretenimento hoje, fica até difícil escolher como passar os momentos de folga. Na necessidade de algum tipo de filtro para essa escolha, a personalização do lazer ganha contornos de vetor de identidade, tornando-se cada vez mais nichada.

Com a popularização das IAs generativas, capazes de produzir imagens, vídeos e faixas de áudio cada vez mais realistas, a tendência é vermos uma produção ainda maior de opções de lazer, gerando ainda mais personalização na escolha de como passar seu tempo livre.

Se, por um lado, essa personalização tem o potencial de criar mais engajamento das pessoas com a arte, por outro pode reduzir o nível de tolerância ao diferente. Afinal, se esta alternativa não é como eu quero, basta ligar o celular e escolher a próxima opção.

Portal Raízes

As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

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