Vai ver a lei do retorno é mesmo só uma grande ideia pra vender livro. Porque se fosse conspiração do Universo a favor daqueles que fazem o bem, se a gente colhesse só o que planta, você agora mesmo poderia estar nos braços da pessoa amada e ela estaria lhe enchendo de mimos. Porque, aposto, é isso que você planta e é isso que você merece. Ah, se é.

Mas nem sempre a pessoa amada é aquela que se encaixa no que você merece. Nem sempre não, na maioria das vezes não se encaixa, e a gente faz malabares para dar certo, para continuar com a pessoa, sabendo de antemão que não importa o caminho que a gente escolher para aquela relação, todos eles terão o destino do fim. E é bem provável que seja um fim conflituoso, que deixará marcas doloridas em ambos.

Mudar o que se é para se adequar ao outro não é altruísmo, é desamor a si mesma. Amar alguém demasiadamente, ao ponto de fazer infindas concessões para satisfação do outro em detrimento da própria satisfação, é falta de amor próprio. É engolir a própria vida que lhe matará de dentro para fora: primeiro o esôfago, o estômago, o intestino e depois os rins e o coração. E você não compreenderá por que mesmo tendo um biorritmo saudável, ficou doente. Mas é a sua vida, seus sonhos, seus anseios, suas perspectivas, seu amor próprio, sua autoestima, seu eu autêntico… que estão fazendo um “coquetel molotov” dentro de você. E tenha certeza, uma hora ou outra, vai explodir de um jeito catastrófico.

Amar verdadeiramente, é deixar livre. É não cobrar aquilo que deveria ser espontâneo. É claro que não existem relacionamentos perfeitos. Se alguém busca por uma união perfeita, colorida, divertida, onde tudo se encaixa harmoniosamente… é melhor comprar um jogo de lego.

Relacionamento é feito de duas pessoas, é uma construção em comum acordo – uma via de mão dupla. Porque reciprocidade não deve ser uma obrigação. Antes é um fator de sintonia. Se não acontece num instante, não acontecerá numa vida inteira juntos.

Todavia você jamais conseguirá construir uma relação sadia e harmoniosa se tentar – em vão – unir pessoas de energias opostas. Sendo assim, lute contra a vontade insana de mudar o outro. A sincronia – nos ensinou Carl Jung – é a única forma dos pares encontrarem as felicidades fluídas de ambos.

Conheço gente que sonhou com uma cobertura e se casou com o primeiro andar, depois passou a vida inteira tentando transformar o primeiro andar em cobertura e quando enfim conseguiu, não deixou a cobertura esquecer que um dia foi primeiro andar. É claro que isso é só uma metáfora cabotina para a nossa compreensão de que energias opostas não se atraem, se destroem. Não tente mudar o outro, não se perca de si mesmo para se adequar ao outro. Decida ser quem você é, e vibre em sua própria sintonia. Creia, alguém com a mesma energia vai lhe encontrar. O que você procura está lhe procurando também.

Mesmo porque – “in natura” – a gente não deixa de ser aquilo que é. Num tempo agimos de modo adaptável, e talvez inconsciente, por receio de perder o objeto de desejo. Aí chegamos a acreditar que mudamos mesmo. Mas, num dia qualquer, o verdadeiro eu explode e a gente volta a cometer as mesmíssimas falhas de convivência.

É maravilhoso ter para quem voltar no final do dia. Mas lembre-se, só se for para os abraços do seu maior fã. É comum desejarmos a companhia de alguém, a afetividade bilateral. Quem não quer? Eu então, oh! Eu estou sempre com fome de afeto. Sofro por não ser correspondida à altura quando insisto em unir energias opostas. Aí fico com os olhinhos lagrimejados de um não sei o quê – do tipo – poxa vida!

A gente recebe o amor que julga merecer. Eu aprendi praticando que é melhor viver sozinha e se sentir um sucesso ainda não encontrado, do que com alguém que lhe induz a acreditar que você é um fracasso em termos gerais.

Entretanto, hoje, eu não tenho mais problemas com isso, pois encontrei o amor da minha vida e estou apaixonada. Ela é tudo que eu sempre quis pra mim. Tem maturidade, inteligência, beleza física e interior, tem muita energia mental e é emocionante estável. Ela fica maravilhosa de sapatilha ou de salto; de jeans ou de vestido; com make, sem make; usando Lacoste ou C&A. Ela enfrenta a vida e a noite sozinha, a primeira porque ela é dona do seu nariz, a segunda porque ela também é dona da rua.  Estou louca por essa mulher e, essa mulher sou eu.

Texto de Clara Dawn






Clara Dawn é romancista, psicopedagoga, psicanalista, pesquisadora e palestrante com o tema: "A mente na infância e adolescência numa perspectiva preventiva aos transtornos mentais e ao suicídio na adolescência". É autora de 7 livros publicados, dentre eles, o romance "O Cortador de Hóstias", obra que tem como tema principal a pedofilia. Clara Dawn inclina sua narrativa à temas de relevância social. O racismo, a discriminação, a pedofilia, os conflitos existenciais e os emocionais estão sempre enlaçados em sua peculiar verve poética. Você encontra textos de Clara Dawn em claradawn.com; portalraizes.com Seus livros não são vendidos em livrarias. Pedidos pelo email: [email protected]