No mundo da pós-verdade “Os fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. Esta foi a conclusão da Universidade de Oxford ao elaborar o seu dicionário anual de 2016. Casper Grathwohl, presidente da Oxford Dictionaries, em entrevista ao Washington Post, disse: “Eu não ficaria surpreso se ‘pós-verdade’ se tornasse uma das palavras definidoras dos nossos tempos”.
Pós-verdade, portanto, é a palavra deste ano usada por quem avalia que a verdade está perdendo importância no debate das redes sociais. Deixou de ser um termo de menor importância para se colocar no centro de algumas publicações. Este é um tempo em que se constroem narrativas falsas e afloram os conflitos por opiniões. A liberdade de opinião dos modernos meios de comunicação é boa principalmente porque oferece a oportunidade para desmentir os boatos tóxicos.
E assim as pessoas conhecem como pensa o outro. Houve um tempo que o direito de resposta, mesmo que previsto em lei, não alcançava os objetivos de desfazer uma notícia falsa com o mesmo destaque em que fora publicado. A TV, o rádio e a as redes sociais foram criados para interagir com as pessoas, mas não substitui a presença física. Antes disso tudo, quando as pessoas queriam rever sua família tinham que viajar muitas léguas. Às vezes passavam dias e até meses viajando a cavalo, de carroça, trem, ônibus e, mais recente, algumas horas, de avião. O importante era estar juntos.
Hoje é mais cômodo dizer, pelos meios eletrônicos, que está com saudade em vez de sair da zona de conforto e ir ao encontro de quem se ama. O amor de verdade não abre mão do reencontro. Ao sentir saudade devemos, sem comodismo, dizer o clássico “Tô chegando”.
É agradável dizer “Eu te amo” por meio do Facebook ou WhatsApp. Melhor ainda é dizê-lo pessoalmente olhando nos olhos, rosto colado e o abraço apertado. A aproximação física, pela troca de energias, é essencial para a vida em harmonia. Para o filósofo Sérgio Cortella“Felicidade é Sentir a vida vibrando num abraço”. Em algumas circunstâncias as redes sociais, pela rapidez com que processam as mensagens, aproximam as pessoas no mesmo instante.
Antigamente as cartas chegavam após dias ou até meses depois de enviadas. Outras nem chegavam ao destino. Mas era comum serem postadas com uma abertura clichê. Por exemplo: “Escrevo essas mal traçadas linhas esperando que encontrem você em paz, saúde e alegria…”.
Provavelmente as cartas enviadas por intermédio de um mensageiro estrearam a polifonia midiática de muitas informações dentro de uma. A cultura popular ensina: “Quem quer, vai; quem não quer, telefona”. Nada substitui a pessoa amada que está distante.
O humano precisa mais do abraço do que de mensagens ditas em qualquer meio de comunicação. Dizer que sente a falta de alguém não substitui o imprescindível “Estou aqui; cadê o meu abraço?”. Um abraço é um poema de amor à pele. Selecionei para você um lindo texto, de autor desconhecido: “Há certas horas que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado, sem nada dizer”.
E por que não a simplicidade do arroz quentinho com feijão e ovos frios feitos pela mamãe? É mais saboroso do que a melhor comida francesa servida num restaurante fino de Paris. Pelo simples fato de que há uma insondável verdade no amor que se propaga por intermédio de um mundo com menos “Sinto a sua falta” e mais “Tô chegando”.