O Dia dos Pais, como conhecemos, é fruto de uma criação comercial do século XX, pensada para movimentar o consumo. Mas, como muitas datas, acabou ganhando também um sentido simbólico. Para além das vitrines, é um momento para refletir sobre o lugar do pai o real, o simbólico e o afetivo, e sobre como essa função impacta a vida psíquica de cada um de nós.
Para a psicanálise, a paternidade vai muito além da figura biológica. Freud nos lembra que a função paterna é antes de tudo simbólica: é o pai que, na estrutura inconsciente, representa a lei, o limite, a possibilidade de separação saudável entre mãe e filho, e a abertura para o mundo. Não se trata apenas do homem concreto que está ou não presente, mas da presença psíquica que estrutura a subjetividade.
Podemos falar, então, de três dimensões do pai:
O pai real: aquele de carne e osso, com suas virtudes e falhas, que participa (ou não) da vida cotidiana.
O pai simbólico: a instância que, mesmo ausente fisicamente, atua na psique como referência de autoridade, proteção e ordenamento interno.
O pai afetivo: aquele que, sendo ou não o pai biológico, exerce cuidado, acolhimento e reconhecimento, oferecendo ao filho um lugar de pertencimento.
Freud e o Dia dos Pais: Entre Heranças e Reconstruções
Em Totem e Tabu (1913), Freud recorre ao mito para explicar o surgimento da cultura e da lei. Ele fala da “horda primitiva”, na qual o pai exercia um poder absoluto sobre o grupo e monopolizava as mulheres. Movidos pela rivalidade e pelo desejo de liberdade, os filhos se unem para matar o pai. O ato, no entanto, não encerra o conflito: após a morte, eles incorporam os valores e proibições do pai, criando as bases da moral e da vida social.
Na leitura psicanalítica contemporânea, “matar o pai” não é um assassinato literal, mas um movimento simbólico: romper com padrões abusivos, opressores ou limitantes herdados. E “herdar o pai” é justamente o oposto: reproduzir, consciente ou inconscientemente, as mesmas condutas que antes se rejeitava.
Na vida real, isso significa que filhos de pais violentos, ausentes ou abusivos podem, se não elaborarem esse legado, repetir com seus próprios filhos aquilo que mais os feriu. Não assumir a “herança do pai”, nesse sentido, é uma forma de libertação psíquica. É decidir conscientemente quebrar o ciclo e criar novos modos de ser pai — ou de se relacionar com a paternidade.
Hoje, assistimos a um movimento crescente de homens que escolhem uma paternidade positiva. Pais que compreendem que sua função não se resume a prover recursos materiais, mas a oferecer presença, afeto, escuta e segurança emocional. É uma reconstrução, ou melhor, uma “desconstrução” da figura paterna autoritária em direção a um modelo mais humano e acolhedor.
O Dia dos Pais, visto por essa lente, pode ser mais do que uma data comercial. Pode ser um convite a revisitar a própria história, reconhecer as marcas deixadas pelo pai que tivemos (ou não tivemos) e escolher o que fazer com essa herança: perpetuá-la ou transformá-la. Porque ser pai, no sentido mais profundo, não é ocupar um lugar por direito biológico, mas por compromisso ético e afetivo.
A chamada “desconstrução” do modelo de pai abusivo ou ausente não é apenas uma moda linguística das redes sociais. É um processo real, profundo e transformador que exige consciência, autocrítica e prática diária. Trata-se de romper com o legado de autoritarismo, indiferença ou violência herdado de gerações anteriores e substituí-lo por um modelo de presença afetiva, respeito e participação ativa na vida dos filhos. É a passagem do “pai que manda” para o “pai que educa com amor e limites”, capaz de criar vínculos saudáveis e memórias afetivas consistentes. Veja a seguir 10 maneiras de praticar a paternidade positiva. Cada ponto apresenta uma prática concreta para que a teoria se transforme em ação no dia a dia.
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