Featured

“Será que algum dia me livrarei de você? – Como lidar com um divórcio conflituoso com um narcisista”

Em muitos contextos sociais, culturais e religiosos, mulheres são pressionadas a permanecer em relacionamentos abusivos. A pressão vem de familiares, comunidades, doutrinas religiosas que exaltam o “perdão incondicional” e até de dificuldades financeiras que parecem impossibilitar a saída. Essa situação cria um ciclo de culpa, medo e submissão, no qual o perdão religioso muitas vezes funciona como instrumento de manutenção do controle do parceiro abusivo, obrigando a mulher a conviver com quem a feriu. É nesse cenário que o conceito de perdão terapêutico ganha relevância: diferente do perdão religioso que culpa, ele liberta do controle do passado e permite reconstruir a própria vida, recuperando autonomia emocional e segurança pessoal.

Libertar-se do Passado: Perdão Terapêutico, Autonomia e Relacionamentos Abusivos

A psicóloga e terapeuta familiar Karyl McBride é especialista no estudo de relacionamentos com narcisistas, abuso emocional e divórcios de alto conflito. Com mais de 40 anos de experiência clínica, ela dedica-se a ajudar pessoas que sofreram manipulação, violência psicológica e conflitos intensos, especialmente em contextos familiares.

Em seu livro: Será que algum dia me livrarei de você?: Como lidar com um divórcio conflituoso com um narcisista”, McBride explora os desafios emocionais, legais e sociais de se separar de um parceiro narcisista. Ela oferece uma abordagem clara e terapêutica, enfatizando que a libertação emocional não depende de o outro mudar, mas sim de estabelecer limites, proteger-se e reconstruir a própria identidade. O livro trata também do impacto sobre os filhos, mostrando como eles podem ser manipulados e usados como armas, e da importância de criar estratégias que os protejam emocionalmente.

A obra reforça a mensagem de que sair de um relacionamento abusivo não é apenas um ato jurídico ou social, mas um passo essencial para preservar a saúde mental, recuperar a autoestima e libertar-se de um ciclo de dor e manipulação.

A importância de sair de um relacionamento abusivo

Relacionamentos abusivos, especialmente com parceiros narcisistas, afetam profundamente a psique, causando ansiedade, depressão, sentimento de culpa e confusão emocional. McBride ressalta que a permanência em um relacionamento tóxico é frequentemente sustentada por fatores externos:

  • Pressão social: familiares e amigos podem insistir na manutenção da relação por tradição ou medo do julgamento.
  • Pressão religiosa: doutrinas que exaltam o perdão incondicional podem reforçar a culpa e impedir decisões saudáveis.
  • Pressão financeira: dependência econômica torna difícil romper laços abusivos, mesmo com consciência do dano emocional.

Reconhecer essas pressões e escolher a libertação é um passo de coragem que coloca a mulher e os filhos em primeiro lugar, permitindo que o perdão seja terapêutico, e não uma obrigação que perpetua o abuso.

7 maneiras de se encorajar a sair de um relacionamento abusivo

A seguir, sete estratégias baseadas nos ensinamentos de Karyl McBride para ajudar mulheres a se fortalecerem e tomarem decisões seguras:

  1. Reconhecer o abuso e validar seus sentimentos
    Admitir para si mesma que está sendo manipulada ou abusada é o primeiro passo. A negação prolonga o sofrimento e impede a reconstrução emocional.
  2. Estabelecer limites claros e firmes
    Limites são essenciais para proteger-se e proteger os filhos da manipulação do parceiro. Isso inclui comunicação mínima, regras de convivência e limites legais, se necessário.
  3. Proteger os filhos emocionalmente
    A manipulação muitas vezes recai sobre eles. Explicar a situação de maneira apropriada para a idade, criar rotinas seguras e preservar o vínculo positivo com cada genitor é crucial.
  4. Buscar apoio terapêutico e comunitário
    Psicoterapia, grupos de apoio e redes de mulheres em situação similar oferecem validação, orientação e força emocional para enfrentar o processo de separação.
  5. Planejar a independência financeira
    Organizar recursos próprios, identificar fontes de renda e, quando possível, planejar a separação financeira contribuem para maior autonomia e segurança.
  6. Desconstruir a culpa imposta por pressões externas
    Entender que a obrigação de perdoar ou permanecer no relacionamento não é sua responsabilidade. O perdão deve ser terapêutico, para libertar-se, e não para satisfazer expectativas religiosas ou sociais.
  7. Redescobrir identidade e propósito próprios
    Reconectar-se com hobbies, interesses e projetos pessoais fortalece a autoestima e reforça que a vida continua além do abuso, permitindo reconstruir vínculos saudáveis e autonomia emocional.

Conclusão

O perdão terapêutico, como enfatiza McBride, liberta a mulher do controle do passado, diferentemente do perdão religioso que muitas vezes a culpa e a obriga a permanecer na relação abusiva. Sair de um relacionamento tóxico é um ato de coragem e de amor próprio, fundamental para proteger filhos, preservar a saúde mental e reconstruir uma vida com autonomia, limites e propósito. Com apoio, planejamento e consciência, é possível romper o ciclo do abuso e encontrar liberdade emocional real.

Portal Raízes

As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

Recent Posts

“Boy Sober” – Resposta histórica ao desgaste emocional provocado por uma masculinidade adoecida

Essa tendência chamada de “detox de homem” ou “boy sober” pode soar como uma provocação…

24 horas ago

Síndrome do Pavio Curto: Quando a raiva explode antes que possamos entendê-la

Todos nós, em algum momento, sentimos o coração acelerar diante de uma frustração ou de…

1 dia ago

Mesmo em repouso, quem convive com fibromialgia gasta energia como se estivesse numa maratona

Quem convive com fibromialgia ou dor crônica sabe bem como é acordar cansado, mesmo depois…

2 semanas ago

O programa de 8 semanas para o bem-estar emocional, segundo médico de Harvard

Vivemos em uma era que promete bem-estar em cada esquina: aplicativos de meditação, séries motivacionais,…

2 semanas ago

A dor causada pela rejeição é igual a dor aguda no corpo, diz a neurociência

A dor causada pela rejeição é igual a dor aguda no corpo e afeta a…

3 semanas ago

“Aceitar o meu TDAH me fez parar de lutar contra mim mesma” – Ana Beatriz Barbosa

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica caracterizada por…

3 semanas ago