Psicologia e Comportamento

Síndrome do Prefácio: quando não se consegue viver o agora, está sempre esperando o depois

O mestre Rubem Alves escreveu: “A gente fica esperando que a alegria haverá de chegar depois da formatura, do casamento, do nascimento, da viagem, da promoção, da loteria, da eleição, da casa nova, da separação, da morte do marido, da morte da mulher, da aposentadoria… E ela não chega porque a alegria não mora no futuro, mas só no agora”.

Não conseguir viver o agora por estar sempre esperando o amanhã é uma síndrome. A do Prefácio.

A Síndrome do Prefácio é uma das mais perigosas. Isso porque, na maioria das vezes os sintomas, apesar de serem muito conhecidos, acabam passando despercebidos por quem está com ela.

As pessoas que possuem tal transtorno acreditam que só alcançarão a felicidade em um momento distante. Por exemplo, quando crescerem, se tornarem maiores de idade, quando se formarem na faculdade, quando finalmente passarem no vestibular, quando arrumarem o trabalho dos sonhos, quando casarem, quando saírem da casa dos pais, quando comprarem uma casa maior, um carro melhor, quando surgir aquela oportunidade de promoção no emprego, quando se mudarem, e por aí vai. A felicidade para eles, nunca está no momento presente e sim no futuro. Nunca no aqui, nunca no agora.

A Síndrome do Prefácio acomete os indivíduos de maneira totalmente inconsciente e acaba dando a ideia de que a sua vida ainda não começou, vai começar quando algo que você espera muito acontecer.

Isso significa dizer que tudo o que você passou até o presente momento foi apenas um simples prefácio do longo caminho que você ainda tem a percorrer até alcançar a sonhada felicidade.

Dessa maneira, as decisões consideradas mais importantes são deixadas para depois, as relações afetivas que representam mais para você acabam sendo subestimadas e os melhores acontecimentos e feitos são menosprezados.

Quem nunca pensou: “Ah, esse trabalho é apenas temporário”, “Esse relacionamento é um simples passatempo” e “Essa amizade não é para sempre”. O grande problema da Síndrome do Prefácio é que os indivíduos portadores não conseguem provar e aproveitar o aqui e o agora de maneira completa. Diariamente, eles vivem frustrados, sempre esperando o dia do sucesso e claro, observando que a grama do vizinho é sempre mais bonita e mais verde.

E é por isso que vemos as pessoas afobadas, com pressa para chegar logo ao seu destino final. Essa pressa pode até ser por motivos bobos, como pegar uma mesa no bar, para chegar logo na praia, para chegar rapidamente em casa, etc.

Estamos sempre de olho em algo melhor, almejando algo que não estão dentro das nossas possibilidades. Se estou na arquibancada, desejo estar na área VIP. Se estou na cidade, desejo ir para a praia.

No fundo tudo isso é uma grande bobagem. É aquela velha história de como você enxerga o como, meio vazio ou meio cheio. O nosso imaginário acaba sempre sendo melhor do que a realidade.

Ao meu ver, não existe nada que desabone o almejar algo a mais. O que realmente é preocupante é o que as pessoas fazem para alcançar os seus desejos, os seus sonhos. Vale realmente a pena passar por cima de seus princípios, do seu caráter, para chegar ao sucesso?

Uma dica é curtir o momento. O melhor lugar do mundo é onde estamos e o melhor instante é o que estamos vivendo. Aproveite ao máximo as oportunidades que a vida te dá. Carpe diem!

Portal Raízes

As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

Recent Posts

Celebrar a própria vitalidade é, em qualquer idade, um gesto político de resistência – Jane Fonda

Jane Fonda atravessou mais de seis décadas públicas sendo atriz, ativista, mulher em reconstrução. Nesse…

2 dias ago

5 maneiras de desconstruir em si mesma o mito da mulher infalível – Com Gabor Maté

Quando o corpo diz basta: o adoecimento das mulheres e o mito do normal Por…

3 dias ago

A chacina no Rio de Janeiro: sintoma de um país que naturalizou a morte do pobre como forma de governo

Na maior operação policial dos últimos quinze anos, o Rio de Janeiro amanheceu entre o…

4 dias ago

Nosso QI está diminuindo 7 pontos por geração, dizem estudos

Nos confins da era digital, vivemos uma experiência curiosa: por um lado, o mundo se…

5 dias ago

Brincar livremente com a terra é o elixir contra o sedentarismo social da infância hiperconectada

"Onde foi que você deixou a criança que brincava numa poça d’água como se navegasse…

6 dias ago

Os filhos que estamos criando hoje trocariam nossas fraldas? – Rossandro Klinjey

Em uma de suas palestras, o psicólogo e escritor Rossandro Klinjey compartilhou uma lembrança terna…

7 dias ago