No imaginário social — cultivado por séculos e reforçado pela indústria cultural — o amor romântico é apresentado como um fenômeno arrebatador, incontrolável e definitivo. Espera-se que o amor surja como um raio, uma fagulha mágica, um encontro de almas gêmeas. Essa ideia domina as narrativas midiáticas, os contos de fadas, os roteiros hollywoodianos e até os conselhos populares: “você simplesmente sabe quando é amor”.
Porém, quando a paixão inicial se transforma, quando o cotidiano se impõe e a convivência real exige paciência, escuta e tolerância, muitos se perguntam: “Será que o amor acabou?” Talvez não. Talvez seja exatamente aí que ele comece.
Na contramão da idealização romântica, emerge uma visão mais realista e transformadora: o amor como construção, como escolha ética, como compromisso cotidiano. Não algo que acontece com a gente, mas algo que se escolhe, se aprende e se pratica. Uma amizade enraizada em respeito, cuidado, responsabilidade e verdade.
Em sua obra fundamental Tudo Sobre o Amor: Novas Perspectivas (2000), a escritora, professora e ativista bell hooks propõe uma abordagem radicalmente honesta e libertadora sobre o amor. Desconstruindo as falsas premissas do amor romântico, ela aponta que amar não é apenas sentir: é agir com responsabilidade emocional.
Para hooks, fomos socializados a confundir paixão com amor, e muitas vezes perpetuamos relações de dor e frustração em nome de uma ideia de romantismo que nada tem a ver com cuidado genuíno. Ela afirma que “romance não é amor; amor é o que resta quando o romance se desfaz” — e nessa frase sintetiza sua crítica e sua esperança.
O amor, diz hooks, exige disciplina, escuta, presença e ética. É um ato político e espiritual. Quando o brilho do encantamento esmorece, o que permanece não é ausência, mas a oportunidade de se construir algo mais profundo: a convivência com o outro como ele é, não como foi idealizado.
A psicanálise, em consonância com essa visão, compreende o amor como aquilo que se sustenta no reconhecimento da alteridade, na aceitação dos limites do outro e de si. Amar é desistir da fantasia de completude para acolher a realidade da convivência. É um processo de deslocamento do narcisismo para o vínculo verdadeiro.
Assim, bell hooks nos convoca a substituir o mito pelo trabalho do amor. Ela não nos convida a abandonar o romantismo, mas a enxergá-lo como porta de entrada — não como fundamento. O amor verdadeiro é o que se constrói quando o romance acaba, e isso é uma libertação, não uma perda.
Sob a luz da psicanálise e da experiência afetiva real, estes são seis sinais que indicam um relacionamento comprometido com o amor verdadeiro — aquele que não depende da intensidade passageira, mas da profundidade construída:
Na era dos amores líquidos e das conexões descartáveis, refletir sobre o amor como construção ética e cotidiana é um ato de resistência. Quando o romance se desfaz, muitos acreditam que tudo acabou. Mas talvez seja ali, no que sobra, que o amor de verdade se revele — não como faísca, mas como brasa que aquece silenciosamente.
Como nos ensina bell hooks, amar é verbo e prática. É decisão de estar com o outro de maneira comprometida, mesmo quando o encanto se vai. O amor real começa onde termina o mito — e é justamente aí que ele se transforma em revolução.
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