Psicologia e Comportamento

7 Sinais de Que Você Está com Transtorno de Ajustamento

Nossa vida é atravessada por mudanças contínuas. Algumas são esperadas, outras chegam sem aviso e nos desorganizam por dentro. Quando um evento externo provoca uma ruptura significativa, seja uma perda, uma doença, uma separação ou mesmo uma mudança positiva intensa, a sensação é de que o chão emocional cede. A psique, diante do impacto, tenta sobreviver como pode.

Esse sofrimento não é fraqueza. É resposta humana. O Transtorno de Ajustamento surge exatamente nesse ponto de fricção entre o que acontece fora e a capacidade interna de elaborar, simbolizar e adaptar-se à nova realidade.

O que é o Transtorno de Ajustamento

O Transtorno de Ajustamento é caracterizado por sintomas emocionais e comportamentais, como tristeza persistente, ansiedade, irritabilidade e dificuldade de funcionamento social ou profissional, que surgem após um evento estressor identificável. Esses sintomas não são proporcionais apenas à intensidade do evento, mas principalmente à forma como ele é vivido subjetivamente.

Cada pessoa responde às mudanças a partir de sua história psíquica, de seus vínculos primários, de suas experiências de perda e dos recursos emocionais que construiu ao longo da vida. Por isso, o mesmo acontecimento pode ser atravessado de formas radicalmente diferentes por pessoas distintas.

Mudança, perda e adaptação psíquica

A vida é dialética. Alegria e dor, ganho e perda, construção e ruptura caminham juntas. Nenhuma experiência existe isolada de seu oposto. Essa dinâmica exige do psiquismo um movimento constante de adaptação.

Eventos como divórcio, desemprego, aposentadoria, hospitalização prolongada, diagnóstico de doença crônica, mudanças abruptas ou não elaboradas podem abalar profundamente os recursos emocionais. Em muitos casos, surgem sentimentos de desmotivação, vazio, insegurança e perda de sentido.

Crises existenciais, como a morte de alguém significativo ou o fim de um projeto de vida, não rompem apenas rotinas. Elas desorganizam identidades.

Até mesmo acontecimentos considerados positivos, como casamento, nascimento de um filho ou promoção profissional, exigem reorganizações internas. Toda mudança significativa convoca a psique a um novo arranjo.

Quando o corpo fala

Diante de eventos traumáticos ou altamente estressantes, o organismo pode responder de forma desadaptativa. Isso envolve alterações emocionais e também neuropsicobiológicas, ativando estados prolongados de tensão, hipervigilância ou esgotamento.

Quando não há elaboração psíquica suficiente, o sofrimento tende a se manifestar no corpo. Surgem sintomas somáticos, fadiga intensa, dores difusas, alterações do sono e do apetite. O corpo torna-se o palco onde o não dito encontra expressão.

Alguns traços de personalidade e experiências precoces de vida podem aumentar a vulnerabilidade ao Transtorno de Ajustamento. Pessoas com histórico de perdas mal elaboradas ou com redes de apoio fragilizadas tendem a sofrer de forma mais intensa.

7 indicadores de Transtornos de Ajustamento

Antes da lista, é importante lembrar que apenas um profissional pode realizar um diagnóstico. Ainda assim, alguns sinais podem servir como alerta para buscar ajuda especializada. 

1. Tristeza persistente ou sensação de vazio que se mantém por semanas e interfere no cotidiano.

2. Ansiedade constante, preocupação excessiva ou sensação de estar sempre em estado de alerta.

3. Dificuldade de adaptação à nova realidade, com sensação de paralisia emocional ou incapacidade de seguir adiante.

4. Alterações do sono e do apetite, sem causa médica aparente.

5. Sintomas físicos recorrentes, como dores, cansaço extremo ou mal-estar generalizado.

6. Isolamento social, perda de interesse por atividades antes prazerosas ou afastamento afetivo.

7. Queda no desempenho profissional ou acadêmico, acompanhada de irritabilidade ou desorganização emocional.

Esses sinais indicam que a psique está pedindo cuidado, escuta e elaboração.

Prevenção, cuidado e elaboração do sofrimento

O sofrimento psíquico não deve ser silenciado nem normalizado quando ultrapassa a capacidade de enfrentamento do indivíduo. Trabalhar as perdas, reconhecer os limites emocionais e buscar apoio psicológico são formas de prevenir que o Transtorno de Ajustamento evolua para quadros mais graves, como depressão ou transtornos ansiosos.

Prevenir não é evitar a dor. É criar espaço interno para atravessá-la. Mudanças são inevitáveis. O que pode ser construído é a forma como nos relacionamos com elas. Quando o cuidado psíquico é priorizado, a adaptação deixa de ser um fardo solitário e passa a ser um processo possível, humano e transformador.

Considerações finais

O Transtorno de Ajustamento não fala de fragilidade, mas de humanidade. Ele revela o ponto exato onde a vida exigiu mais do que a psique conseguiu oferecer naquele momento.

Escutar esse sofrimento é um gesto de maturidade emocional. Cuidar dele é um ato de responsabilidade consigo mesmo.

Porque saúde psicoemocional começa quando levamos a sério aquilo que nos desorganiza por dentro.

Fontes pesquisadas

  • American Psychiatric Association. DSM-5-TR: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
  • Organização Mundial da Saúde. CID-11: Classificação Internacional de Doenças.
  • Kaplan & Sadock. Compêndio de Psiquiatria.
  • McEwen, B. S. Stress, adaptation, and disease. Annals of the New York Academy of Sciences.
  • Freud, S. Inibição, Sintoma e Angústia.
  • Winnicott, D. W. O ambiente e os processos de maturação.

 

Soraya Rodrigues de Aragão

Soraya Rodrigues de Aragão é psicóloga, psicotraumatologista e escritora. Estudou Psicologia na Universidade de Fortaleza- UNIFOR e na Università Maria Santissima Assunta- LUMSA. Equivalência do curso de Psicologia na Itália resultando em Mestrado. Especialista em Psicotraumatologia pela A.R.P. de Milão. Especialista em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde pela Sociedad Espanola de Medicina Psicosomatica y Psicoterapia- SEMPyP Especialista em Psicoterapia Breve de Casais pela SEMPyP e Universidad San Jorge. Curso superior universitário em Transtornos de personalidade- FA e Universidad Catolica San Antonio de Murcia. Curso Superior universitário em acompanhamento e intervenção terapêutica em processos de luto- FA e Universidad Catolica San Antonio de Murcia. Curso Universitário em dependência emocional- Fa e Euneiz. Especializanda em Transtornos de personalidade pela SEMPyP e Universidade San Jorge. Autora dos livros: Fechamento de ciclo e renascimento- Este é o momento de renovar a sua vida, Liberte-se do Pânico, Supere desilusões amorosas e pertença a si mesmo e do livro infantil Talita e o Portal.

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