Psicologia e Comportamento

Chore, até que sua dor se esvazie e se preencha de esperança

A vida não é fácil e, não raro, vem com tudo, derrubando tudo o que encontra pela frente. Viver nem sempre é calmaria, haja vista as tempestades que se formam, de maneira imprevisível. E a gente se quebra e se diminui, a gente perde pessoas, perde oportunidades, perde sonhos, amores, perde tempo. É preciso chorar. Ou implodimos por dentro.

Quando a dor da decepção esgarçar a sua alma, derrubando por terra todas as confianças depositadas em quem usou o seu melhor de maneira desumana e cruel. Quando as pessoas retornarem o oposto da fidelidade que você lhes ofereceu, traindo e denegrindo a integridade por que sempre foram pautadas suas ações. Pode chorar.

Quando você rega o seu amor diariamente, com verdade e entrega integral, interessando-se pelo outro, olhando-o nos olhos e segurando-lhe as mãos com todas as suas forças, sem retorno afetivo. Quando você diz “bom dia”, sorri por simplesmente o outro estar ali na frente, é grato por amar, mas sem volta. Quando não há reciprocidade. Pode chorar.

Quando nada dá certo, ninguém o entende, ninguém o ouve, nada de bom existe ali por perto. Quando o desânimo invade, a tristeza toma conta e a angústia sufoca o peito, faz tremerem as mãos, faz a cor desaparecer do mundo lá fora. Quando é tanta porrada, que dói tudo, dói a alma, dói a dor da desesperança e da solidão. Pode chorar.

Quando a amizade fere, ignora, não responde, não procura, não vem junto e você percebe que somente de sua parte havia luta, havia parceria, havia cumplicidade. Quando nem era amizade, nem era estima, nem era nada, somente você gritando ao eco solitário do retorno vazio. Pode chorar.

Chorar faz bem, vai limpando tudo por dentro, lavando cada canto de nossa carga dolorosa que se acumula em nossos corações. Ninguém consegue sufocar e calar, quando a tristeza quer achar uma saída, quando é preciso esvaziar-se de tudo o que fere e machuca a alma. Chore, mas escolha bem os lugares onde verterá suas lágrimas e as pessoas que serão dignas o bastante para assistir ao seu pranto e entender seus sentimentos, sem usá-los em proveito próprio.

É dessa forma, afinal, que iremos esvaziar toda a dor que nos oprime a essência, para que ela possa novamente vir a ser preenchida com fé e com esperança. É assim que a gente recomeça e volta a sorrir de novo.

Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.

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