Psicologia e Comportamento

Da prática do bullying na escola ao genocídio – Com Barbara Coloroso

Toda pessoa que pratica bullying se torna genocida? Não, mas todo genocídio tem raiz no bullying. O genocídio parece um horror do qual apenas pessoas extremamente más ou insanas são capazes de realizar, mas, Barbara Coloroso, escritora e palestrante especialista em bullying, explica a rapidez com que alguém pode passar da prática do bullying a um comportamento genocida. Mais importante, ela explica como podemos identificar e eliminar os comportamentos que  levam às piores atrocidades da humanidade

Barbara, em palestra na TED, conta como começou a educar pais e professores sobre como criar seres humanos responsáveis, engenhosos, resilientes e empáticos. Barbara Coloroso explica as ligações entre o bullying no pátio da escola e o genocídio nas ruas e demonstra quão pequena é a distância entre eles. Ela que trabalhou em Ruanda durante o genocídio em massa, explicou que o genocídio ‘desumaniza’ as pessoas da mesma forma que o bullying faz com crianças vítimas.

Barbara argumenta que “o bullying é uma atividade deliberada e hostil, destinada a prejudicar o outro, obtendo prazer em seu sofrimento psíquico, em seu constrangimento, em sua humilhação”, e afirma que precisamos ensinar as crianças a pensar e a questionar:

“As crianças precisam aprender a pensar fora da caixa. Elas têm que ficar fora de suas caixinhas e serem capazes de se colocarem no lugar de outra pessoa. Elas precisam ter a capacidade de ver o mundo com admiração e ceticismo. É preciso que elas nos questionem porque o primeiro passo, o primeiro ingrediente, para um genocídio é ter um grupo de pessoas que não questionam, que praticam a obediência inquestionável.

A segunda é a rotinização da crueldade. Quando a crueldade se torna rotineira, se torna a norma. É na rotinização da crueldade que nossos filhos estão nadando.  E o último é a desumanização do outro. Tornando-o numa coisa que eu não preciso me preocupar porque eu posso ser uma pessoa boa e malvada até o fim, e exterminar a coisa. Por isso não há remorso [no bullying]. Porque ele é desprezo por outro ser humano”.

“Precisamos começar a olhar criticamente para rotinização da crueldade e para desumanização do outro, e para obediência inquestionável à autoridade de um líder, de grupo. Eu estou preocupada com a violência virtual e a violência não virtual, porque real ou virtual, ela nos afeta”.

Coloroso então explicou que o bullying, assim como o genocídio, não pode ser resolvido por meio da resolução de conflitos. Mas deve ser combatido com a prevenção em casa, na comunidade, e especialmente na escola. Falando, explicando, inquerindo reflexões e ações contra o bullying desde a mais tenra infância. Ela elucida, por exemplo, que o ódio pelos judeus, não começou de uma hora para outra, mas sim, no pátio da escola.

Coloroso explica os papéis dos personagens envolvidos em um incidente de bullying: “O alvo é o sujeito da ação de um agressor que pode ser um instigador, perpetrador ou planejador. E outros podem ser capangas, apoiadores ativos, espectadores passivos”.

Coloroso propõe um desafio: “Assista o seu programa favorito e anote toda vez que você ver alguém rindo do outro que não está com eles”.

Assista a palestra na íntegra. Vale muito a pena.

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