Psicologia e Comportamento

O meu problema é que sou intensa demais…

Pra alguns isso tudo é drama, pra outros é frescura, tem os que achem que eu só quero chamar atenção. Tem gente que nem se importa, não tá nem aí. Mas a verdade é que eu sou feita de excesso. Em excesso.

Nasci assim, com umas células extras de intensidade no corpo. Sou oito ou oitenta, tudo ou nada, agora ou nunca. Se eu amo alguém, é dilaceradamente, com todo o meu coração. Mas se odeio alguém, é na mesma intensidade e fica estampado na cara a minha falta de simpatia. Quando eu estou feliz, é exageradamente, não consigo nem conter o sorriso que fica preso de orelha a orelha, mas se estou triste é com o mesmo exagero e aí eu choro como se o mundo fosse se desfazer.

Eu sou tempestade, terremoto, furacão, então não me peça pra ser calmaria, garoa, sol de fim de tarde, porque eu não vou conseguir. Não aprendi a ser meio termo. Mais ou menos. Café com leite. Não consigo sentir nada em conta gotas, sabe? De pouquinho em pouquinho. Se eu sinto, é sempre muito, sempre grande. Não me pede pra engolir o que quer sair de mim, nem pra ignorar o que eu sou. Não me peça pra ser menos, porque eu só sei ser mais. Sou mais alma e coração do que corpo, e mesmo que muita gente não entenda isso, eu gosto de ser assim.

É claro que viver transbordando o tempo todo tem o seu lado ruim. Às vezes a gente se machuca feio, quebramos a cara com tudo no chão, às vezes sangra um bocado dentro da gente e demora um tempão pra estancar. Às vezes a gente dá tudo o que tem e mais um pouco, porque não conseguimos fazer absolutamente nada pela metade, mas não recebemos na mesma proporção de volta. E aí parece que a dor dobra, se multiplica, aumenta. Mas sabe o lado bom disso? É que apesar de ser horrível no começo, quando passa, não sobre nada. Fica vazio, sem nenhuma marca, nenhuma cicatriz. Porque ser intenso é isso.

Ser intensa é ter coragem de cair de cabeça mesmo sem ter certeza se lá embaixo vai ter alguém pra nos apoiar. É ter pressa pra fazer dar certo e, vez ou outra, se dar conta de que o certo era o errado. É viver com frio na barriga, como se fosse sempre a primeira vez de tudo. É incendiar, pegar fogo, causar estragos. É não ter medo de gritar, de arriscar, de tentar. É não ter medo de viver. E fazer isso como se o mundo fosse acabar amanhã, afinal, hoje pode mesmo ser o nosso último dia, então que tenha muito drama, muita frescura, muita tentativa de chamar atenção. E que a gente chame!

Eu quero ir embora com a certeza de que eu fiz tudo o que eu podia, de que eu tentei tudo, de que eu lutei por tudo e, principalmente, que aproveitei tudo. Mesmo que esse tudo, em alguns momentos, seja triste e solitário. Dizem que o meu problema é que sou intensa demais, exagerada demais, mas quer saber? Melhor ser assim, do que ser oca e sem graça.

Por Gabriela Freitas via AstroBr

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