Literatura

O que desejamos do amor é que ele nos desperte o prazer do brincar – Rubem Alves

Meu pai me contou que, quando era menino, no inicio do século passado, guardava os seus brinquedos num saco. Os brinquedos que o pai menino guardava no saco: latas vazias, pedaços de barbante, sementes, sabugos de milho, botões, pedaços de pau, pedrinhas e todo tipo de coisas inúteis. Quando alguém aparecia para visitar a minha avó, ele pegava o saco de brinquedos e o esvaziava diante da visita.

Certamente achava os seus brinquedos interessantíssimos! A mãe dele ficava furiosa e aplicava-lhe um corretivo de chineladas depois que a visita ia embora. A chinela era um dos itens favoritos que minha avó guardava no saco de brinquedos dela.

As crianças continuam as mesmas. Ainda gostam de mostrar brinquedos. A gente cresce e continua brincando. “Em todo homem há uma criança que deseja brincar” (Nietzsche). E todos temos o nosso saco de brinquedos. A fala somos nós abrindo o saco e depositando brinquedos…

O saco de brinquedos: isso é de fundamental importância quando o amor está em jogo. A paixão acontece quando, fascinados por uma imagem – pode ser um jeito de olhar, um jeito de sorrir, um jeito de falar! -, imaginamos que dentro daquele corpo de imagem fascinante estão guardados os brinquedos com que gostamos de brincar. O que vemos é a imagem da pessoa amada, mas o que imaginamos são os brinquedos que julgamos guardados dentro dela. Rubem Alves

Da redação de Portal Raízes.  Texto de Rubem Alves – Título original: saco de brinquedos – Excerto do livro “Pensamentos que penso quando não estou pensando” – Editora Papirus, Campinas, São Paulo, 2012. Se você gostou do texto, curta, compartilhe com os amigos, e não se esqueça de comentar. Pois isto contribui para que continuemos trazendo conteúdos incríveis para você. Siga o Portal Raízes também no FacebookYoutube e Instagram.

Portal Raízes

As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

Recent Posts

O açúcar é como o álcool para crianças, danifica o fígado e o cérebro

Os pesquisadores demonstraram que o açúcar consumido pelos pequenos pode fazer tão mal ao fígado…

5 dias ago

Como os casinos online imitam o luxo dos estabelecimentos físicos

Os casinos online avançaram muito para além de interfaces simples e poucos recursos. Hoje, os…

7 dias ago

11 feridas que a filha não amada por sua mãe carrega até a vida adulta

A relação entre mãe e filha é um dos vínculos mais profundos e complexos na…

2 semanas ago

Depois dos 50 é preciso tomar a vacina contra o herpes-zóster

Herpes Zoster é uma doença que aparece na pele, causada pelo Vírus Varicela-Zoster (VVZ), o…

2 semanas ago

“Quanto mais inteligente é uma pessoa, menos sociável ela é”- Por Leandro Karnal

O professor Leandro Karnal, no vídeo “Ler é viver”, reflete sobre a relação entre cultura,…

2 semanas ago

“É através do brincar livremente que a criança elabora angústias primitivas e organiza sua vida emocional” – Melanie Klein

Em uma época em que as telas dominam o cotidiano, as crianças estão gradualmente desaprendendo…

2 semanas ago