“Se extrairmos da vida todo o elemento contemplativo, ela sucumbirá a uma hiperatividade mortal”, diz o filósofo coreano Byung-Chul Han, em seu livro A Sociedade do Cansaço (Burnout Society). A partir dessa teoria de Byung, gostaríamos de refletir acerca da importância do exercício da contemplação para a nossa saúde física, mental, cognitiva, espiritual e psicoemocional.
Estamos vivenciando tempos líquidos, como dizia sociólogo polonês, Zygmunt Bauman. Isso quer dizer que estamos numa corrida interminável onde todas as coisas são fluídas, dinâmicas, hiperativas, hiperconectadas, hiperestímuladas e rapidamente descartadas. Ora, o nosso cérebro ainda possui ferramentas psíquicas primitivas e não consegue acompanhar todas essas tecnologias criadas para o avanço do progresso em todas as ciências e então ele entra em colapso. O resultado? Crises agudas de ansiedade com sintomas físicos que variam, desde mãos suadas à taquicardia e vômito. Tal fenomenologia social torna verossímil a teoria de Byung sobre a vida estar sucumbindo a uma hiperatividade mortal.
A contemplação é um processo cognitivo profundo e relaxante capaz de conduzir uma pessoa a se conectar com seus pensamentos mais íntimos e a desenvolver uma consciência mais profunda de si mesma, do mundo, da situação em que está inserida e da problemática que precisa resolver.
“Numa perspectiva geral, podemos dizer que o exercício da contemplação enfatiza a autoconsciência, a autorregulação, e/ou a autoinvestigação, para encenar um processo de transformação psicológica que consequentemente evocará vários aspectos da vida”, diz o psiquiatra Richard J. Davidson
Embora a meditação e contemplação sejam práticas relacionadas à espiritualidade e à saúde emocional, elas não a mesma coisa, uma vez que a meditação procura esvaziar a mente enquanto a contemplação se baseia em pensamentos focados. No entanto, a meditação pode ser usada no início do processo contemplativo para limpar a mente e alcançar a tranquilidade antes de mergulhar na contemplação.
Existem várias técnicas de meditação e você encontra algumas guiadas no Youtube. A ioga é uma das maneiras mais eficiente de unir meditação, com respiração e prática de atividade física. Tente, ao menos, uma vez por semana, meditar por uns 20 minutos.
Existem vários métodos para nos conectarmos com nossos pensamentos internos. A rota utilizada varia de pessoa para pessoa. No entanto, isso pode ser realizado com recursos mínimos. Contemplar o ir e vir do mar; apreciar em silêncio, e livre de tecnologias, o pôr do sol; observar com interesse à vegetação que o rodeia; caminhar em silêncio num parque; fazer caminhadas no campo ou numa floresta; subir uma montanha; apreciar a vista de um lagoa ou até mesmo, se aquietar num ambiente com sons suaves e focar na respiração, buscando se conecte com a beleza daquele instante puro e simples.
Uma técnica de contemplação que é respaldada pela neurociência é
Mindfulness, palavra que pode ser traduzida como “atenção plena”, é a prática de se concentrar completamente no presente. Em atenção plena, as preocupações com passado e futuro dão lugar à uma consciência avançada do “agora”, que inclui percepção de sentimentos, sensações e ambiente.
Um exemplo desse exercício é o seguinte: sente-se confortavelmente de forma que sua coluna fique ereta e os pés firmes no chão, sem cruzar as pernas. Feche os olhos e por dois minutos tente manter a sua concentração na sua respiração: como o ar entra e sai de seus pulmões; sinta os seus pés, os joelhos, as coxas, as mãos, os braços, os ombros, o pescoço, a cabeça, as costas, a língua, os olhos, as narinas… Tente sentir cada parte do seu corpo. Esteja onde você está.
O segredo não é você conseguir ficar dois minutos inteiros concentrado apenas no momento, mas, sobretudo, conseguir trazer o pensamento de volta todas as vezes que se desconcentrar. No começo você achará difícil. Mas insista. Porque com o tempo, conseguirá fazer isso por muitos minutos e verá o resultado positivo da atenção plena em todos os aspectos de sua vida.
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