Ser mulher é carregar, ainda hoje, o peso histórico de não ter sido considerada plenamente humana. Por séculos, fomos definidas como “o outro do homem”, o apêndice, o detalhe, a sombra. A luta das mulheres para serem vistas como seres pensantes, criativos e produtivos tem gerado avanços inegáveis. Hoje, somos cientistas, juízas, motoristas, físicas nucleares, presidentas de países, cirurgiãs, atletas de alto rendimento, empresárias, escritoras premiadas, entre tantas outras possibilidades que foram, durante muito tempo, negadas ao feminino.
No Brasil, por exemplo, a Lei Maria da Penha (2006) e a Lei do Feminicídio (2015) são frutos da pressão dos movimentos feministas e da sociedade civil. Na educação, somos maioria nas universidades. No entanto, ainda somos minoria em posições de liderança e sofremos a violência simbólica e física da desigualdade todos os dias.
Apesar de todas essas conquistas, mais de sete décadas após o chamado boom do feminismo (que teve seu marco na segunda onda nos anos 1960-70), vivemos sob um regime em que o feminicídio, o subjugo, a espoliação do corpo e da subjetividade feminina seguem de forma assustadoramente naturalizada.
Publicado em 1949, O Segundo Sexo, da filosofa existencialista Simone de Beauvoir, é uma das obras mais influentes do pensamento feminista. Nele, Beauvoir analisa a mulher a partir de várias perspectivas: biológica, histórica, psicanalítica, literária, existencial e social. Sua frase mais conhecida, “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, resume toda a tese central: a mulher é uma construção cultural, feita à imagem do desejo e do controle masculino.
Beauvoir revela que, ao amar, a mulher foi ensinada a se anular. Em suas palavras, o amor torna-se “um perigo mortal” quando é vivido como fuga de si mesma, e não como encontro. Quando o amor é alimentado pela fraqueza, pela dependência e pela idealização da entrega, a mulher desaparece como sujeito e se transforma em objeto.
Beauvoir não romantiza a maternidade. Para ela, a maternidade não é uma essência, é uma escolha que deve ser livre. Denuncia a imposição social da mãe como destino inquestionável da mulher. Ela escreve que a mulher deve poder “engendrar em liberdade, como o artista cria sua obra”. A mãe forçada à renúncia de si vive uma existência mutilada.
Historicamente, a sexualidade feminina foi silenciada ou serviu aos desejos masculinos. Simone revela como a mulher foi ensinada a ignorar seu próprio prazer, a ter vergonha de seu corpo e a ver o sexo como um dever. A verdadeira revolução sexual feminina, segundo ela, ocorre quando a mulher se reconhece como sujeito de desejo, não como objeto.
Para romper com o isolamento e a competição entre mulheres, fomentada pelo patriarcado, Beauvoir aponta a necessidade da consciência coletiva. O despertar feminista é também um gesto de irmandade. O apoio entre mulheres fortalece e ajuda a transformar a dor em ação política.
Simone argumenta que a mulher foi treinada para depender. Primeiro dos pais, depois do marido, depois dos filhos. A dependência econômica e afetiva são duas correntes irmãs que mantêm a mulher presa ao medo e à submissão. Rompê-las exige autonomia financeira, educação emocional e acolhimento institucional.
Empoderar-se, para Simone, é mais do que se afirmar. É se criar. É transformar o mundo simbólico e material onde a mulher não tem voz. A mulher empoderada não nega o amor, mas não o aceita como prisão. Ela ama com sua força, e não com a sua fraqueza.
Nenhuma mulher deveria atravessar o deserto da violência sozinha. Existem redes de apoio, centros de assistência jurídica, psicológica, médica, que garantem suporte para sair de relações abusivas. Beauvoir ensina que a liberdade é uma construção coletiva.
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