Segundo o mestre Rubem Alves, no seu livro: “Se eu pudesse viver minha vida novamente”, ele teria feito tudo o que não deu tempo de fazer, ou melhor, tudo aquilo que o tempo da pressa não permitiu que ele sentisse.
Não é um livro. É um sussurro. Não são crônicas. São memórias do que poderia ter sido, e ainda assim são mais vivas do que muita biografia inteira. Cada palavra ali parece escrita com a caligrafia das lágrimas que ele não derramou, das brincadeiras que ele não brincou, das manhãs que ele atravessou sem perceber o cheiro do café recém-coado.
Ele dizia que teria comido mais sorvete, se deitado mais na grama, conversado mais com as árvores, olhado mais o céu. Teria feito mais “besteiras”- não as que envergonham – mas as que libertam: como correr descalço na chuva, como rir alto em velório, como falar com os passarinhos. Teria sido menos sério. Menos útil. Menos ocupado.
Rubem entendeu tarde (mas entendeu) que a vida não é um currículo, é uma canção. E ele passou anos tentando afiná-la com os acordes da produtividade, até perceber que a beleza morava naquilo que achamos que serve para nada: a contemplação de uma flor, um beijo antes de sair, o espanto diante do belo. Se arrependia? Não. Ele não era desses que se apegam ao remorso. Mas confessava: “Se eu pudesse…” E nesse “se” cabe um mundo inteiro de delicadezas que a pressa roubou.
No fundo, ele queria o que todos queremos quando já é quase tarde: mais tempo para amar os detalhes. Mais tempo para ser bobo. Para errar. Para brincar. Para não fazer nada. Mais tempo para estar, não para ser algo, mas para ser alguém. E, quem sabe, menos tempo para tentar entender tudo, e mais tempo para simplesmente se encantar.
Rubem não escreveu esse livro para nos ensinar. Ele o escreveu para nos lembrar. Lembrar que a vida acontece nas entrelinhas do que adiamos. Que o essencial nunca grita. E que, talvez, só viva de verdade quem aprenda a perder tempo com o que ama. Por isso, se eu pudesse te dizer algo – eu, você, Rubem, qualquer um de nós, seria isso – não espere a vida passar para entender o que ela queria te mostrar.
Abra a janela. Sinta o vento. Respire com gosto. Chore se for preciso. E ria também. A graça está no espanto da beleza diante dos mistérios de existir. A graça é sempre acessível e multissensorial. A urgência não é o trabalho. Nem o sucesso. Nem o reconhecimento. A urgência, como ele disse, é viver. E viver é feito com o que não se pode medir: cheiro, toque, tempo perdido e alma presente.
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