Durante gerações, fomos educadas para tolerar a dor em silêncio. Desde cedo, aprendemos que “ser boazinha”, “compreensiva” e “forte” era um mérito. O sofrimento emocional, quando não acompanhado de marcas físicas, era desconsiderado. Crescemos ouvindo que “homem é assim mesmo”, que “toda mulher passa por isso”, ou que “é preciso saber ceder”. Naturalizamos relações desiguais e violentas travestidas de amor.
Esse condicionamento social nos tornou mais vulneráveis ao abuso psicológico. Fomos ensinadas a duvidar da nossa própria percepção, a desconfiar dos nossos sentimentos e a priorizar o bem-estar do outro em detrimento do nosso. Em nome do amor, aprendemos a nos calar. Mas amor não é dor constante. Amor não é humilhação, manipulação, silenciamento. Reconhecer isso é o primeiro passo para romper com o ciclo.
Segundo Signe M. Hegestand, psicóloga, especialista em abuso psicológico, a partir de sua própria história de vida, marcada por mais de vinte anos em uma relação abusiva, afirma que não é possível se curar do abuso psicológico no mesmo ambiente que te adoece. Aceite que a responsabilidade pela autocura é sua, mesmo que a dor tenha vindo do outro.
Como fomos moldadas para aceitar o abuso psicológico
No seu livro:“Abuso Psicológico – Como Seguir em Frente“, Signe oferece uma análise precisa, acessível e profundamente empática sobre os mecanismos do abuso emocional e como superá-lo. A obra parte de uma premissa contundente: é possível se libertar, mas não se você continuar no mesmo ambiente que te adoece. A cura requer distância, consciência e responsabilidade.
Hegestand propõe uma abordagem que integra psicologia, psicanálise e responsabilidade existencial. Ela não culpa, mas convoca: a saída existe, mas é um caminho que precisa ser trilhado com coragem, acolhimento e decisão.
10 sinais e exemplos práticos de que você está sofrendo abuso psicológico
- Você se sente constantemente culpada, mesmo sem motivo aparente.
Exemplo: Ele fica emburrado quando você sai com amigas, e você acaba se desculpando por sair. - Suas emoções são invalidadas.
Exemplo: Quando você expressa tristeza ou angústia, ele diz que é “drama” ou “frescura”. - Há controle disfarçado de cuidado.
Exemplo: Ele quer saber onde você está o tempo todo e diz que é porque se preocupa com você. - Você evita conversar para não gerar conflito.
Exemplo: Silencia o que sente porque sabe que ele vai reagir com frieza ou agressividade. - Você se sente diminuída ou ridicularizada.
Exemplo: Ele faz piadas com seu corpo, sua inteligência ou suas escolhas. - Ele distorce a realidade para confundir você (gaslighting).
Exemplo: Você lembra claramente de algo que ele disse, mas ele afirma com veemência que nunca disse aquilo. - Seu estado emocional depende das atitudes dele.
Exemplo: Se ele está bem, você sente alívio; se está distante, você entra em crise. - Você não se reconhece mais.
Exemplo: Tinha hábitos, opiniões e gostos que deixou de lado para agradá-lo. - Suas conquistas são menosprezadas.
Exemplo: Quando você celebra algo, ele reage com indiferença ou sarcasmo. - Você sente medo de terminar a relação.
Exemplo: Teme represálias, chantagens emocionais ou não conseguir seguir sozinha.
Como se livrar:
- Nomeie o abuso. Sem nome, não há consciência.
- Fale com alguém de confiança. Quebre o silêncio.
- Busque terapia. É essencial para reconstruir a autoestima.
- Estabeleça limites claros e firmes.
- Planeje uma estratégia de saída com segurança, se for o caso.
- Relembre quem você era antes do relacionamento.
Onde buscar ajuda
- Ligue 180: Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência.
- CREAS: Centro de Referência Especializado de Assistência Social da sua cidade.
- Delegacia da Mulher: Em casos de ameaça ou violência direta.
- ONGs de acolhimento: Ligue para redes locais ou nacionais como a Instituto Maria da Penha, TamoJuntas ou MeToo Brasil.
- Psicólogas voluntárias: Muitas plataformas oferecem atendimento gratuito ou social, como o Mapa da Saúde Mental.
Fontes consultadas:
- https://www.portalraizes.com/como-a-nossa-mente-e-moldada-para-aceitarmos-o-abuso-psicologico-signe-m-hegestand/
- https://www.hegestand.dk/en
- https://www.metoomovimento.com.br/
- https://tamojuntas.org.br/
- https://www.institutomariadapenha.org.br/