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3 sonetos de Camões que só os bons amantes recordarão

Luís de Camões é o poeta renascentista de maior expoente que conhecemos. Sua poesia percorreu temas como o amor, o encantamento da mulher, o desconcerto do mundo, além da poesia épica em que se destacam Os Lusíadas. Sua vida foi pouco ortodoxa, apesar de ter frequentado o ambiente da corte nunca pertenceu à família rica. Seus casos de amor, muitas vezes o colocaram em maus lençóis. É um poeta neoclássico, traz em seus sonetos a concepção neoplatônica do amor – o amor só poderia ser concretizado no plano da ideias, não faria parte deste mundo real, seria parte do mundo das ideias.

Quer na lírica, quer na épica, o gênio de Camões magnetiza o leitor e o eleva, de súbito, a um outro estado de percepção. Como Dante, Petrarca e Shakespeare, Camões foi mestre na arte de escrever poemas.

Primeiro soneto:

Amor é um fogo que arde sem se ver;
é ferida que doi e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealmente.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Extraído do livro Sonetos Luiz de Camões, Editor Martin Claret, 2003, página 19.

 
Outro:
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
o lindo ser de vossos olhos belos,
se não perder a vista só em vê-los,
já não paga o que deve a vosso gesto.

 

Este me parecia preço honesto;
mas eu, por de vantagem merecê-los,
dei mais a vida e alma por querê-los,
donde já me não fica a  mais de resto.

Assim que a vida e alma e esperança
e tudo quanto tenho, tudo é vosso,
e o proveito disso eu só o levo.

Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho e quanto posso
Que, quanto mais vos pago, mais vos devo. 
Extraído do livro Sonetos Luiz de Camões, Editor Martin Claret, 2003, página 31.

Terceiro soneto:
Por que quereis, Senhora, que ofereça
a vida a tanto mal como padeço?
se vos nasce do pouco que mereço,
bem por nascer está quem vos mereça.

Sabei que, enfim, por muito que vos peça,
que posso merecer quanto vos peço;
que não consente Amor, que em baixo preço
tão alto pensamento se conheça.

Assi que a paga igual de minhas dores,
com nada se restaura, mas devei-ma,
por ser capaz de tantos desfavores.

E se o valor de vossos servidores
houver de ser igual convosco mesma,
vós só convosco mesma andai de amores.
Extraído do livro Sonetos Luiz de Camões, Editor Martin Claret, 2003, página 41.

 

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