Os casos do “Calvo do Campari”, preso em flagrante agredindo a namorada; do homem que tirou a vida de duas colegas de trabalho; e daquele que arrastou a própria companheira com o carro não viralizaram por polêmica. Viralizaram porque escolheram praticar violências explícitas, misóginas e covardes.
E nada disso nasce no vácuo. Violência não brota do nada. Ela é aprendida, repetida e normalizada. É a família que desculpa o “gênio forte”. A escola que evita debater gênero. Os amigos que transformam agressões em piada. A cultura que ainda chama brutalidade de temperamento.
Quando reduzimos tudo a memes, nos afastamos do que realmente importa: homens que acreditam ter permissão para ferir mulheres. Esses episódios não foram virais. Foram alertas. E alertas assim exigem responsabilidade coletiva. A pergunta não é “por que ele fez isso?”. A pergunta urgente é: “o que estamos ensinando aos meninos de hoje?”.
Os casos recentes de violência contra mulheres viralizaram não por curiosidade, mas porque a violência apareceu sem véu. E o mais inquietante é perceber que nada disso é acidental. É fruto de uma cultura transgeracional que ainda ensina homens a serem fortes demais para sentir e mulheres a serem compreensivas demais para reagir. O machismo não é um deslize individual: é uma herança emocional silenciosa, transmitida dentro de casas, escolas, relacionamentos e instituições.
Essa cultura cria meninos autorizados a explodir e meninas ensinadas a suportar. É nessa repetição que a engrenagem da violência se mantém. E romper esse ciclo é responsabilidade de todos: psicólogos, psicanalistas, educadores, famílias, casais, gestores e qualquer pessoa disposta a enfrentar a lógica que sustenta o machismo. A seguir, apresento dez caminhos possíveis. Cada um deles sugere práticas concretas e aplicáveis ao cotidiano.
Ensinar limites não é impor medo, mas orientar sobre responsabilidade. Uma criança frustrada que empurra outra pode ouvir: “Eu sei que você ficou com raiva, mas machucar não ajuda. Vamos pensar em outra forma de resolver?”.
Rodas de conversa podem problematizar masculinidades, respeito e emoções. Um professor pode perguntar: “Como essa cena de filme poderia ter sido resolvida sem violência?”.
O exemplo educa. Um pai que diz “homem não chora” reforça a ideia de que sentir é fraqueza. Trocar a velha frase por “você pode sentir e pode me contar”, pode quebrar ciclos viciosos de perpetuação do machismo e construir trajetórias de respeito mútuo.
Quando a criança recusa um abraço e o adulto respeita, aprende-se sobre limites corporais. Frases como “você escolhe sobre o seu corpo” plantam sementes importantes.
5. Criar espaços seguros para homens falarem sobre emoções
Muitos nunca aprenderam a nomear o que sentem. Psicólogos, grupos comunitários ou projetos sociais podem abrir conversas como: “O que você faz quando a raiva cresce?”.
Quando um amigo faz piada sobre mulher, é possível dizer: “Você não acha isso ofensivo? Podemos repensar?”. Firmeza e respeito ampliam a reflexão.
Muitos episódios de violência começam com a incapacidade de ouvir um não. Uma namorada pode pedir espaço. O namorado precisa aprender a respirar, se afastar e buscar apoio, não pressionar.
Escolas, igrejas, associações e empresas podem convidar profissionais para falar sobre masculinidade saudável. Isso amplia o alcance da conscientização.
Pais e educadores podem incentivar acordos e conversas. Após uma briga entre irmãos, perguntar: “O que cada um queria? Como podemos resolver sem bater?” desenvolve habilidades emocionais.
Ao perceber sinais de violência (machucados, medo, isolamento …) é possível oferecer ajuda prática. Dizer “se precisar, posso te acompanhar a um serviço especializado” pode salvar vidas.
A mudança é coletiva e cotidiana. Cada gesto educativo, cada conversa desconfortável e cada atitude responsável constrói o mundo que desejamos. Transformar a cultura não é abstrato: é ação contínua, silenciosa e necessária.
Se queremos uma geração emocionalmente mais saudável, a transformação começa nas conversas que evitamos, nos exemplos silenciosos que damos e nas masculinidades que temos coragem de questionar.
Sem diálogo sobre limites, consentimento, respeito e responsabilidade emocional, a criança aprende em outro lugar. E a internet ensina rápido, ensina alto e ensina sem nenhum compromisso ético. Basta olhar o noticiário: homens agredindo, humilhando, ameaçando e até executando mulheres e filhos. Uma epidemia antiga, silenciosa e que continua matando.
Por isso, se você é pai, mãe ou cuidador, fale sobre isso com suas crianças e adolescentes. Não espere a urgência bater à porta. Se é educador ou gestor de escola, leve o tema para a sala de aula. Crie espaços de escuta, rodas de conversa e encontros com famílias. Se coordena equipes, faça do respeito e da responsabilidade uma prática, não um slogan. A mudança não é simples, mas é possível. E começa no cotidiano, com a coragem de sair do silêncio.
A frase “Se você é homem, a violência contra as mulheres é problema seu” é um chamado para que homens se engajem ativamente na luta contra a violência de gênero, saindo do silêncio e reconhecendo que o problema afeta toda a sociedade. A campanha destaca que a violência não é um problema exclusivamente das mulheres, mas de todos, e incentiva os homens a confrontarem atitudes machistas, questionarem o próprio comportamento e a serem corresponsáveis na construção de um ambiente seguro.
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