Literatura

Em qual espelho ficou perdida a minha face? – Um nostálgico poema de Cecília Meireles

Retrato – poema de Cecília Meireles –  se estrutura na comparação de como a pessoa era no passado e como ela é no presente: rosto calmo, triste e magro; mãos paradas, frias e mortas; olhos vazios; lábio amargo; mudança simples, certa e fácil. As palavras em destaque (calmo, triste, magro, vazios, amargo, paradas, frias, mortas, simples, certa e fácil) são nomeadas por adjetivos e servem para expressar características, qualidades (ou defeitos) e estados dos seres. Fonte – No vídeo, o ator Ivan Lima dá voz e interpretação às lembranças poéticas de Cecília Meireles, confira.

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles MEIRELES, C. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.

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As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

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