Categories: Pais e Filhos

Filho mal-educado: “Mas não foi isso que eu ensinei”. Foi sim! – Içami Tiba

“Meu filho é mal-educado, mas não foi isso que eu ensinei, dizem os mesmos pais que se submetem a todos os caprichos dos filhos. Ao dar tudo para filhos sem lhes ensinar a conquistar,  esperar, negociar, agradecer… os pais passam o recado de que as crianças podem agir assim com outras pessoas”, escreveu o mestre Içami Tiba.

Essa frase, embora dura, continua sendo uma das mais verdadeiras sobre educação emocional.

Muitos pais se surpreendem quando o filho cresce e passa a tratar mal os outros: colegas, professores, empregados. “Mas eu nunca ensinei isso!”, dizem. Só que os filhos não aprendem apenas com palavras.  Aprendem com o exemplo dos pais, com o que sentem e, principalmente, com o que é repetido é permitido.

Quando os pais se calam diante do desrespeito, o filho entende que pode tudo. E dentro dele nasce uma sensação perigosa: a de ser o centro do mundo. É como se dissesse: “Se até meus pais, que podem mandar em mim, não o fazem, quem são os outros para me impor limites?”.

É assim que o afeto vira poder, e o amor, sem limite, se transforma em desordem.

Mas é importante lembrar: nem todo filho mal-educado é um tirano em miniatura. Às vezes, ele é uma criança perdida num lar onde tudo é “pode” ou tudo é “não”. Quando há limite demais, a alma se sufoca. Quando não há nenhum, o mundo vira um caos.

Em ambos os casos, o filho carrega para fora de casa a mesma confusão que viveu dentro dela. Se foi excessivamente reprimido, pode repetir essa repressão com os mais fracos. Se nunca foi frustrado, não saberá lidar com o primeiro “não” que a vida lhe der.

Toda criança precisa sentir que o amor dos pais é mais resistente do que a sua raiva

Quando o pai ou a mãe dizem “não”, mas continuam presentes, o filho aprende que o limite não destrói o amor — ele o protege.

Por outro lado, quando o limite vem cheio de gritos, humilhação ou frieza, o filho entende que o “não” é uma rejeição. E cresce com medo de errar, de se impor, de ser ele mesmo.

O equilíbrio está em ensinar o respeito sem medo e o amor sem permissividade.

Não é fácil. Requer dos pais uma força emocional que também se constrói com o tempo.

A boa notícia é que, como dizia Tiba, “sempre é tempo de melhorar, pois nada está condenado a ser sempre igual”.

Pais e filhos estão em permanente construção. O que importa é reconhecer os erros, reparar e seguir tentando — juntos.

Para os pais refletirem

Abaixo estão algumas perguntas simples que ajudam a repensar o modo como estamos educando — não com culpa, mas com consciência:

1. Quando meu filho me desafia, eu reajo com medo, raiva ou firmeza amorosa?

2. Eu costumo ceder para evitar o choro, o conflito ou o desconforto?

3. Eu consigo dizer “não” sem deixar de acolher o sentimento que vem depois desse “não”?

4. Estou ensinando meu filho a respeitar o outro — ou a ter medo do outro?

5. E, por fim: o que meu comportamento ensina, mesmo quando eu não digo nada?

Conclusão

Ser pai ou mãe é uma das tarefas mais delicadas da vida.

  • Não há manual, mas há presença, escuta e reparação.
  • Os filhos não precisam de pais perfeitos — precisam de pais que se responsabilizam, que amam com firmeza e que aprendem junto com eles.
  • Educar é amar com limite e limitar com amor.
  • Porque é no equilíbrio entre o afeto e o “não” que nasce o respeito — por si e pelo outro.

Fonte pesquisada:

Livro: Disciplina – Limite na medida certa, de Içami Tiba.

Portal Raízes

As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

Recent Posts

60 anos é novo auge da inteligência, diz estudo

A História da ciência, da arte e da filosofia guarda inúmeros exemplos de pessoas cujo…

16 horas ago

“O feminismo incomoda mais do que o feminicídio porque a ideia de uma mulher morta é mais tolerável do que a ideia de uma mulher livre”

Desde que o Brasil tipificou o feminicídio em 2015, a violência letal contra mulheres deixou…

16 horas ago

“Mudar dá trabalho, mas permanecer onde nos machuca é tortura”

Monja Coen, uma das vozes mais significativas do Zen Budismo Soto no Brasil, fala de…

2 dias ago

“Passei anos tentando merecer respeito, mas hoje eu sei que o meu valor não é recompensa, é origem” – Viola Davis

A história das mulheres é, em muitos aspectos, a história de aprender a existir. Entre…

3 dias ago

Não há tempo para tudo. É necessário nos dedicarmos ao essencial

"É necessário nos dedicarmos ao essencial", escreveu o mestre Rubem Alves em seu livro: "Variações…

4 dias ago

Campanha: “Se você é homem, a violência contra as mulheres é problema seu” – Com Cid Vieira

Os casos do “Calvo do Campari”, preso em flagrante agredindo a namorada; do homem que…

5 dias ago