Cultura

O que diz O Avesso da Pele, no avesso da arte, da censura e do juízo de valor moral?

O livro vencedor do Jabuti 2021, maior prêmio literário do Brasil, “O Avesso da Pele”, é de autoria do escritor Jeferson Tenório e está no centro de uma polêmica iniciada após Janaina Venzon, diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira, em Santa Cruz do Sul (RS), pedir ao Ministério da Educação (MEC) o recolhimento dos exemplares distribuídos para alunos do ensino médio, alegando “vocabulário de baixo nível” e “vulgaridade”. Desde que a diretora expôs, em um vídeo nas redes sociais, trechos do livro, que ela considerou inapropriados, desencadeou uma série de reações políticas-sócio-culturais e alguns estados brasileiros estão retirando das escolas públicas exemplares do livro.

Um grupo com centenas de escritores, artistas e intelectuais se uniram para denunciar a censura sofrida pelo escritor Jeferson Tenório. O grupo conta com nomes como Ailton Krenak, Afonso Borges, Conceição Evaristo, Bruno Lombardi, Carla Madeira, Denise Fraga, Djamila Ribeiro, Lilia Schwarz, Malu Mader, Maria Homem, Mia Couto, Milton Hatoun, Pilar Del Rio e Silvio Almeida. Na avaliação do movimento, os ataques à obra de Jeferson são preocupantes do ponto de vista democrático e das relações raciais.

O que diz O Avesso da Pele, no avesso da arte, da censura e do juízo de valor moral?

Situado no contexto urbano de Porto Alegre, o livro “O Avesso da Pele”, do autor Jeferson Tenório, é uma obra do gênero ficção urbana, com uma narrativa poética profunda, que aborda temas como racismo, identidade do povo preto com suas relações familiares e a busca pela aceitação das diferenças em uma sociedade marcada por paradigmas preconceituosos e excludentes.

Em síntese, a obra conta a história de um jovem negro que teve o pai, um professor de literatura também negro, morto pela polícia em Porto Alegre. A partir dessa tragédia, o jovem tenta resgatar o passado da família e de seu pai. O racismo e a violência policial são perpetrados durante a narrativa, além de questões como o sistema educacional e as relações entre pais e filhos.

O que causou polêmica

No livro há um trecho em que é narrada uma cena de sexo entre o jovem negro e sua namorada branca. Esse trecho é o que tem sido alvo dos ataques por utilizar palavras ditas de “baixo calão”.

Em entrevista ao UOL News, Tenório disse que esse trecho foi lido fora de contexto, dando a entender que é um livro erótico. Segundo ele, sua obra é uma crítica social à branquitude, ou seja, ao modo como as pessoas brancas enxergam as pessoas negras.

“E isso passa também pela erotização, pela sexualização dos corpos negros, de como esses corpos são vistos. Esse trecho especificamente que a diretora leu fala justamente sobre isso. O que era um trecho para ser problematizado enquanto por que os negros são vistos dessa forma acabou virando um alvo de censura. O mais curioso é que as palavras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras”, disse.

Após censura, o livro ‘O Avesso da Pele se tornou campeão de vendas em todo Brasil. Segundo informações da BookInfo, as vendas cresceram mais de 6.000% em uma semana. O que as vendas representam é que as pessoas não muito interessadas em fazer da opinião alheia a sua própria, ela querem ter sua própria versão da história, lendo o livro com a mente liberta de preconceitos. Se você quiser também ter a sua própria opinião sobre O Avesso da Pele, acesse aqui.

O autor da obra também se manifestou no Instagram sobre as críticas recebidas. Confira:

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As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

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