Categories: Literatura

“Vivi num mundo de homens, mas guardei em mim o melhor da minha feminilidade”

Simone de Beauvoir (1908 – 1986),  foi uma importante escritora e feminista francesa. Suas ideias tratavam de questões ligadas à independência feminina e o papel da mulher na sociedade, defendendo sempre que cada um é responsável por sim próprio. Ela teve um relacionamento com Jean Paul Sartre, que conheceu em 1929 na Sorbonne, e a partir desse romance, que chocou a França, daquela época, por ser considerada uma relação “aberta”, uma vez que os dois também mantinham um relacionamento com outras pessoas, sendo a liberdade o principal fundamento da relação e da corrente filosófica dos dois. Assim, foi considerada “a dama mal comportada” aos olhos da sociedade francesa. De seu romance com Sartre, que durou até o fim da vida, os dois trocaram muitas cartas em que escreviam sobre o que pensavam e sobre o relacionamento. Resultante disso, Simone de Beauvoir é considerada uma das maiores representantes do pensamento existencialista francês.

Transcrevemos o trecho de uma entrevista com Fernanda Montenegro, à Globo News, em que ela recita parte de um texto de Simone Beauvoir acerca de como lidar com o passado, a vivência ‘num mundo de homens’ e a feminilidade e abaixo do vídeo, uma seleção de frases de Simone de Beauvoir  extraídas da peça “Viver sem tempos mortos”, inspirada na correspondência de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre. A peça é protagonizada por Fernanda Montenegro.

Trecho narrado por Fernanda Montenegro:

“A impressão que eu tenho é de não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou para mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente, o sabor da minha vida. Acho que eu consegui fazê-lo. Vivi num mundo de homens guardando em mim o melhor da minha feminilidade. Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos.” Simone de Beauvoir

Frases  de “Viver sem tempos mortos”:

Os livros nunca mais me abandonaram.
*
Ele se interessava por tudo, e não tomava nada por definitivo.
*
O ato da fé é o mais desesperado que existe.
*
Uma parte de mim jamais seria aceita por um homem: eu sou muito inteligente.
*
Nenhum homem teria a capacidade generosa de me amar.
*
Sugeri que fizéssemos um passeio pelo campo e ele me disse que era alérgico à clorofila.
*
Não se nasce mulher. Se torna mulher.
*
A virilidade é também uma invenção cultural.
*
*Ouvi de sua boca: a senhora é a fonte do meu prazer.
*
O amor não é posse.
*
Aceitei não ser mais desejada sexualmente por ele. Há pessoas em que o hábito acaba com o desejo pelo sexo.
*
O reverso da glória é o ódio.
*
Posso dizer que o amo, sem a intenção de lhe dedicar toda a minha vida?
*
Passei pela porta da igreja e gritei: – Libertem a noiva!
*
Eu silenciei.
Meu silêncio não nos separou.
O tempo é irrealizável.
Provisoriamente o tempo parou pra mim.
É o meu passado que me define para o futuro.
E ao meu passado eu devo o meu saber,
e a minha ignorância…
É o meu passado que me projeta para o futuro.
Não desejo nada
além de viver sem tempos mortos.
Algumas obras de Simone de Beauvoir: “Os Madarins” (1945) “Todos os homens são mortais” (1946) “O Segundo Sexo” (1949) “Memórias de uma Moça Bem Comportada” (1958) “A Força da Idade” (1960) “A Força das Coisas” (1964) e “A Velhice” (1970).
Portal Raízes

As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

Recent Posts

“A gente adoece mesmo é de ter que perdoar, conviver e pedir a benção para abusador”

Se nós somos aquilo que comemos e a maneira que comemos, quer dizer que tudo…

2 dias ago

“Como viver a maternidade sem culpa e sem o mito da perfeição” – Análise de dois livros de Marcia Neder

A escritora e psicanalista Clara Dawn, faz uma síntese de dois livros da doutora em…

2 dias ago

Médico de Harvard ensina a Técnica “4-7-8″ que faz dormir em 1 minuto

Dormir em um minuto? Parece que estamos mentindo, mas a boa notícia é verdadeira. Chama-se…

3 dias ago

Às vezes precisamos nos desligar do mundo e aumentar o volume da própria vida – Ophah Winfrey

Eu quero falar com você sobre o tempo de ficar só e de se dedicar…

1 semana ago

Medo, culpa, solidão e estresse: as 4 dores que as mães enfrentam diariamente – Por Léo Fraiman

As frequentes demandas, a falta de uma rede apoio, o descanso, a má divisão das…

1 semana ago

Site mobile ou app de apostas: qual é melhor para apostar

A experiência mobile para apostas levou o setor para outro nível de imersão e interatividade.…

2 semanas ago