Vivemos em tempos em que o fazer ocupa mais espaço do que o ser. A exigência por produtividade contínua, metas inalcançáveis e a sobrecarga emocional transformaram o ambiente de trabalho — antes uma esfera de realização — num território muitas vezes hostil, desumanizador. É neste contexto que se inscreve a Síndrome de Burnout, também conhecida como esgotamento mental e emocional crônico.
Este artigo tem como objetivo lançar luz sobre os sinais silenciosos e os clamores do corpo e da mente que anunciam que algo está em desequilíbrio. Que o excesso está cobrando o seu preço. E, sobretudo, é um convite à pausa, ao cuidado e à escuta de si.
Burnout é uma resposta psicofísica diante de um estresse prolongado e mal gerido. Trata-se de um colapso do organismo frente à sobrecarga contínua — especialmente ligada ao contexto de trabalho. É como se o corpo gritasse aquilo que a palavra silencia. Como um celular que, sem energia suficiente para continuar funcionando, se apaga.
A diferença é que, ao contrário do celular, o ser humano insiste. Ignora os sinais. Anula suas próprias necessidades. Até que o esgotamento se torna tão profundo que a única saída possível é parar — não por escolha, mas por colapso.
É fundamental compreender que, para muitas mulheres, a jornada não termina ao fim do expediente. A rotina doméstica, invisibilizada e desvalorizada, impõe-se como mais uma carga — emocional, física, social. O cuidado com filhos, a administração da casa, a gestão afetiva dos vínculos. Tudo isso sem reconhecimento e, muitas vezes, sem rede de apoio.
Essa sobreposição de tarefas fragmenta a atenção, exaure os sentidos e mina a vitalidade. O excesso de estímulos e de exigências rouba o tempo do descanso, do prazer, da contemplação — aspectos fundamentais para a saúde mental. E o resultado é um corpo que adoece porque foi negligenciado.
O Burnout não chega de repente. Ele vai se instalando lentamente, como uma sombra que cresce à medida que a luz do sentido vai se apagando. Estar atento aos sinais é um ato de autocuidado e resistência. Eis os principais sintomas:
Esgotamento físico, mental e emocional persistente
Sensação de cansaço extremo mesmo após o repouso
Falta de motivação, perda do sentido e do prazer no trabalho
Despersonalização: tratar os outros (clientes, colegas, pacientes) com frieza, irritação ou indiferença
Queda da autoestima, sentimento de culpa e inutilidade
Ausências frequentes no trabalho e conflitos interpessoais
Irritabilidade, impaciência, isolamento social
Insônia ou sono de má qualidade
Dores de cabeça tensionais e problemas digestivos
Redução da produtividade e da criatividade
Ignorar esses sinais é como tapar o sol com a peneira. O corpo sempre tentará avisar — primeiro sutilmente, depois com gritos.
O diagnóstico da Síndrome de Burnout exige uma avaliação cuidadosa e multidisciplinar. Isso porque seus sintomas podem se confundir com outras doenças, como distúrbios da tireoide, anemia, diabetes, fibromialgia, depressão e transtornos de ansiedade.
Dessa forma, antes de qualquer conclusão, é necessário descartar outras causas clínicas e psiquiátricas. Só então será possível compreender se o que há é, de fato, uma exaustão ligada ao contexto de trabalho e à sobrecarga emocional crônica.
Antes de tudo, é preciso afirmar: o cuidado não é luxo, é necessidade. A seguir, algumas estratégias simples, porém eficazes, para preservar a saúde emocional no cotidiano laboral:
Respire com consciência
Faça pequenas pausas durante o dia para respirar lenta e profundamente. A respiração consciente ativa o sistema nervoso parassimpático, responsável por acalmar o corpo.
Estabeleça limites claros
Dizer “não” é uma forma de dizer “sim” à própria saúde. Evite levar tarefas do trabalho para casa, e delimite horários para descanso.
Cuide do sono como um bem sagrado
O sono é restaurador. Priorize uma rotina noturna tranquila, sem telas, com rituais que induzam ao relaxamento (como chás calmantes ou leitura leve).
Organize tarefas por prioridade, não por urgência
Estabelecer o que é essencial evita a sensação constante de estar atrasado ou devendo algo a alguém.
Crie micro-momentos de prazer ao longo do dia
Um café saboreado com calma, um banho com música suave, alguns minutos ao sol. São pequenas alegrias que nutrem a alma.
Converse sobre o que sente
Ter alguém de confiança com quem desabafar (um amigo, um terapeuta, um colega empático) ajuda a elaborar e relativizar as tensões.
Revisite o sentido do que faz
Pergunte-se: por que faço o que faço? O que me trouxe até aqui? Retomar o sentido do trabalho pode resgatar motivação e propósito.
A Síndrome de Burnout não é um fracasso pessoal. É um sintoma coletivo de uma sociedade que exige demais e acolhe de menos. Reconhecer os sinais, acolher a vulnerabilidade e buscar ajuda é um ato de coragem e de amor-próprio.
Lembre-se: parar não é desistir. É recarregar. É resistir. É reencontrar-se.
Functional connectivity in burnout syndrome: a resting-state EEG study – Este estudo investigou mudanças na conectividade cerebral em pessoas com Burnout, comparando 49 casos com 49 controles. Os resultados apontam diferenças significativas em redes de atividade cerebral, especialmente na região frontal, oferecendo um olhar neurobiológico aprofundado da exaustão crônica
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