Auroville: a cidade onde não há política, religião, leis e diferenças

Em algum lugar na Terra deve haver um lugar onde nenhuma nação pode invocar um direito. Onde todas as pessoas que têm uma aspiração sincera poderia viver livremente como cidadãos do mundo, seguindo apenas uma liderança: a liderança da Verdade Suprema

Parece um conto de fadas dos filmes de Indiana Jones, a antiga lenda oriental. Mas Auroville existe.

Em 1968, o dia da fundação da cidade, representantes de centenas de países estiveram em Auroville levando um pouco de terra de seus países nativos. Os montes foram empilhados em urnas de mármore e enterrados perto do Matrimandir, que agora é um local de encontro comum.“Matrimandir” pode ser traduzido como “Templo Mãe” e simboliza um modo de vida, que é projetado para libertar as pessoas das limitações políticas, financeiras e sociais. O templo é voltado aos ensinamentos de Sri Aurobindo e Mirra Alfassa – um indiano e uma mulher francesa. Juntos, eles criaram o Ashram, que mais tarde tornou-se a cidade de Auroville (Ashram – um lugar onde as pessoas vivem e lidam com intensa prática espiritual e tranquilidade em meio à natureza).

Matrimandir está localizado no coração de Auroville. Este edifício com uma cúpula dourada, onde as pessoas se reúnem e meditam. No centro, logo abaixo da cúpula, há uma enorme bola de cristal . A luz brilhante chega a dar uma cegueira momentânea – devido às correntes de luz solar.

A cidade suporta até 50 mil pessoas. Atualmente, o número de residentes permanentes é de dois mil. A maioria veio da Índia, mas há pessoas da França, Alemanha, Israel, Estados Unidos, Rússia e muitos outros países. Eles vivem em casas localizadas em uma espiral que se desenrola do centro da cidade, à partir do templo de Matrimandir. Cada um faz o seu trabalho. A cidade é autossustentável: há campos, fábricas, padarias, restaurantes, escolas, cinemas, escola de música. Tudo alimentado por energia solar. Há até mesmo jornais locais.

Todas as decisões importantes são tomadas na cidade a partir de um Grupo de Estudo, formado para cada decisão, que deve ser aprovada pelo voto geral. Não há centralização de decisões, prefeito ou outro órgão único de governo.

Qualquer um pode se tornar um residente de Auroville. O período de adaptação, ou estágio para iniciantes, dura um ano, após do qual os cidadãos podem recusar-se a aceitar o novato. Para se basear na cidade, você deve primeiro comprar uma casa, que será sua propriedade permanente, enquanto você viver na cidade.

Todos os residentes adultos trabalham em Auroville e recebem um salário mensal de cerca de R$ 405,00 (ou 90 Euros). Há muitas famílias jovens. Além de agricultores e engenheiros, a cidade não tem escassez de artistas, arquitetos, cientistas e médicos. Os moradores crêem fazer parte de uma grande experiência que irá beneficiar toda a humanidade.

Os únicos veículos que se vê são poucas motocicletas usadas para algumas necessidades da comunidade. Com exceção de táxis que trazem as pessoas recém chegadas do “mundo exterior”.

A vida em Auroville é bastante diversificada, mas não é simples. Todos os dias você tem que lutar consigo mesmo, com os seus complexos e medos – não há distrações e não há como evitar as pessoas. Mesmo um novato que não conhece ninguém na cidade, depois de um tempo vai conhecer todos os que vivem lá. Muitos chegam à cidade em pares.

Em Auroville não há absolutamente nenhuma barreira de comunicação: os habitantes são muito abertos e incrivelmente silenciosos.




Update: A mão de obra é compartilhada e cada um trabalha com aquilo que deseja ou que tenha maior habilidade. Um terço dos moradores de Auroville é proveniente da própria Índia.

Update: Os moradores contribuem com um valor mensal fixo que é usado para manter a infra-estrutura existente, como estradas, serviços de saúde, instalações de educação, habitação, etc. Além disso, uma taxa de administração única é solicitada à todos. Estrangeiros também devem contribuir com um fundo específico, que é devolvido ao morador caso este venha a deixar de morar na cidade.

Caso a pessoa não tenha como fazer essas contribuições, a situação é considerada individualmente.Mais importante do que a contribuição monetária é a própria contribuição através do trabalho regular e útil para a comunidade.


Não há religiões, mas a espiritualidade está sempre presente.

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As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

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