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Ansiedade: o equilíbrio não está em anestesiá-la, mas em aprender a dançar com ela

Em tempos de aceleração constante, exigências sociais e digitais que parecem não ter pausa, a ansiedade tornou-se uma presença quase inevitável em nossas vidas. Muitos percebem seus efeitos no corpo, nas relações e na tomada de decisões, mas ainda existe certa confusão sobre suas origens e formas de enfrentamento. Para compreender melhor a ansiedade, é essencial voltar aos estudos de uma pensadora que trouxe uma visão profunda e humana da psique: Karen Horney.

A compreensão da ansiedade, segundo Karen Horney

Psicanalista alemã radicada nos Estados Unidos, Karen Horney (1885–1952), autora do livro: “A personalidade neurótica do nosso tempo”, destacou-se por sua crítica ao determinismo biológico freudiano, especialmente no que diz respeito à psique feminina. Para Horney, a ansiedade não é apenas fruto de conflitos instintivos internos, mas surge da interação entre o indivíduo e seu ambiente social e familiar. Ela identificou a chamada ansiedade básica, uma vulnerabilidade emocional natural que se intensifica quando a pessoa enfrenta relações hostis, críticas ou negligentes.

A ansiedade, segundo Horney, pode levar à criação de estratégias de sobrevivência psicológica que moldam a forma como nos relacionamos com o mundo:

  • Movendo-se em direção aos outros: busca constante de aprovação e dependência emocional.
  • Movendo-se contra os outros: tentativa de dominar ou competir para se proteger.
  • Movendo-se para longe dos outros: isolamento e autossuficiência exagerada.

Essas estratégias, embora funcionais em certos momentos, podem se tornar desadaptativas, aumentando a tensão interna e o sofrimento.

Ansiedade contemporânea: caminhos para lidar

Com base nas ideias de Horney e em práticas psicológicas atuais, apresentamos cinco maneiras de lidar com a ansiedade na vida moderna:

  1. Reconhecer e nomear os sentimentos
    Identificar os sinais físicos e emocionais da ansiedade ajuda a reduzir o efeito automático e a aumentar a consciência sobre os gatilhos.

  2. Desconstruir o self idealizado
    Comparar-se constantemente com padrões impossíveis intensifica a ansiedade. Aceitar o self real e suas limitações promove alívio e autenticidade.

  3. Práticas de atenção plena (mindfulness) e respiração
    Exercícios de respiração consciente e meditação ajudam a regular o sistema nervoso e reduzem o impacto do estresse diário.

  4. Estabelecer limites e relações saudáveis
    Avaliar relações interpessoais e definir limites claros reduz a ansiedade provocada por expectativas externas ou exigências excessivas.

  5. Expressão criativa e movimento
    Arte, escrita, dança ou caminhadas na natureza funcionam como válvulas de escape para emoções represadas, fortalecendo o equilíbrio emocional.

Conclusão

A ansiedade não precisa ser encarada apenas como um obstáculo. Como nos ensina Karen Horney, ela é também um sinal de vulnerabilidade humana e um convite à reflexão sobre nossas relações, expectativas e autoconhecimento. Com atenção consciente, estratégias adaptativas e um olhar empático para si mesmo, é possível transformar a ansiedade em uma força para crescimento e compreensão existencial.

Fontes pesquisadas:

  • Horney, K. (1950). Livro: “A personalidade neurótica do nosso tempo”
  • Schaffer, J. (2015). Karen Horney and Feminine Psychology. Psychology Today.
  • American Psychological Association (APA). Anxiety Disorders. 2023.
  • Segal, Z., Williams, J., & Teasdale, J. (2018). Mindfulness-Based Cognitive Therapy for Depression and Anxiety. Guilford Press.
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