“Você não pode mudar uma pessoa narcisista. Ela não vai melhorar. Essa é a dura realidade. Esperar que um narcisista mude é uma forma injusta e cruel de autoabandono”. Essa frase ecoa como um grito de lucidez. Talvez doa, mas é uma dor que cura, que desperta. É o tipo de verdade que nos arranca da fantasia de um amor possível com quem não enxerga o outro como um sujeito, mas apenas como uma extensão de si. Essa é a proposta da doutora em relacionamento familiar, Margalis Fjelstad, em seu livro “Curando um Relacionamento Narcisista: Um Guia para Recuperação, Empoderamento e Transformação”. Ela não romantiza, não mascara. Vai direto ao ponto: relações com pessoas narcisistas não se curam com mais amor, mas com limites, distanciamento e reconexão com o próprio eu.
A doutora Margalis define o relacionamento narcisista como uma relação emocionalmente abusiva, caracterizada por uma dinâmica de controle, manipulação, dependência afetiva e negação da individualidade do outro. O narcisista é alguém que precisa se sentir superior, admirado e no controle constante, mas que tem uma autoestima frágil e dependente de validação externa. Para isso, ele faz uso de técnicas psicológicas destrutivas: gaslighting, chantagem emocional, silencioso castigo e inversão de culpa.
Na perspectiva de Fjelstad, o que mais destrói não é o grito, mas o esvaziamento emocional: o narcisista retira o chão de quem está por perto, criando uma realidade onde só há espaço para suas necessidades, desejos e narrativas.
Esse é um conceito central na obra da autora. O cuidador capacitado é geralmente uma pessoa empática, sensível, que aprendeu desde cedo a cuidar dos outros como forma de ser aceita. Vem, muitas vezes, de lares negligentes ou instáveis, onde precisou assumir papéis parentais na infância. São pessoas que confundem amor com sacrifício.
Fjelstad alerta: esse tipo de pessoa é o par perfeito (e trágico) para o narcisista. Porque enquanto o narcisista exige, o cuidador oferece. Enquanto o narcisista manipula, o cuidador justifica. Enquanto o narcisista desvaloriza, o cuidador tenta provar seu valor.
Essa dança só termina quando o cuidador percebe que não é responsabilidade dele salvar ninguém — e que tentar salvar o narcisista é perder-se de si mesmo.
Nem todo comportamento abusivo é narcisismo. Mas há alguns padrões consistentes que ajudam na identificação, segundo Fjelstad:
É importante lembrar que o narcisismo é um transtorno de personalidade (TPN) que exige diagnóstico clínico. Porém, mesmo sem o rótulo formal, estar em uma relação com alguém que reproduz esses padrões já é motivo suficiente para acionar o alerta emocional.
Fjelstad reforça: amar não deve significar desaparecer. Quando o amor vira prisão, o afeto já morreu — o que resta é apego e medo. Quando você está num relacionamento com uma pessoa narcisista, você:
Uma das contribuições mais fortes de Fjelstad está na denúncia do autoabandono. Quando você permanece esperando que o narcisista mude, está, na verdade, repetindo uma lógica de abandono emocional que talvez tenha começado na infância. Você tenta, inconscientemente, ser a criança boa que vai, finalmente, receber amor.
Mas essa espera se torna um cativeiro. A mudança verdadeira, segundo a autora, só acontece quando você deixa de esperar que o outro melhore e começa a reconstruir sua própria vida. E isso requer coragem — mas também compaixão por si mesma.
Não se trata apenas de romper. Muitas vezes, isso é impossível no início — seja por vínculos legais, familiares, afetivos. Mas o processo de cura começa quando você começa a:
Margalis Fjelstad oferece um mapa de saída — e ele passa, antes de tudo, pela escolha de amar a si mesma. Ela não promete final feliz no outro, mas promete liberdade e reconexão no seu próprio caminho.
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