O saudoso médico-psiquiatra, psicoterapeuta e escritor, Flávio Gikovate, em seu livro “Uma História de Amor Com Final Feliz”, fala que o amor como vivenciamos hoje é imaturo, regressivo e não respeita a individualidade de cada um. Baseado nas experiências de seus 40 anos de atuação na psicoterapia, o médico apresenta uma proposta inusitada acerca da questão do amor: formar laços que respeitem a individualidade de cada um, ou seja que ambos tenham o direito de vivenciar seus próprios sonhos e alegrias individuais; ou então, se não é capaz de respeitar a individualidade do outro, viva só, para não impor a ninguém que deixe de “existir” para se dedicar exclusivamente ao relacionamento.

O amor como vivenciamos hoje é imaturo e regressivo

“Uma relação compatível com os tempos modernos é a que respeita a individualidade. Existe respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar. É parecido com a amizade porque aproxima ‘duas unidades’ e não ‘duas metades’. Basicamente, é uma forma adulta e sólida de relacionamento, na qual a palavra concessão é substituída por respeito”.

Medo de se relacionar

“Parte do medo de se relacionar é o de perder a individualidade. Então, o indivíduo foge. Se não foge, chega uma hora em que começa a se sufocar pela falta da individualidade de novo. Mas com o tempo o medo vai diminuindo junto com a vontade de ficar grudado e vai aumentando a individualidade. É como se o amor bem resolvido curasse o indivíduo do mal de amar. É importante lembrar que o sonho de fusão continua presente. Mas duas coisas modificaram esse ideal do amor: a independência da mulher, desequilibrando a idéia de fusão com uma liderança masculina, e o avanço tecnológico, que criou condições extraordinárias para o entretenimento individual. Hoje, há uma briga muito mais ostensiva entre amor e individualidade”.

‘Ficar’

“As relações amorosas sempre vão existir. O que eu defendo, e acredito, é que elas vão mudar. Porque o mundo mudou e está impondo a necessidade de levar em conta a individualidade. As relações casuais também vão continuar acontecendo. E, nessa nova ordem, ela nem sempre será considerada ruim. Se houver maturidade de ambas as partes, restará sempre uma boa relação afetiva, ainda que superficial. O status do “ficar”, criado pelos jovens, é uma condição de relacionamento simplesmente perfeita. É um bom ensaio para atingir a maturidade.

Temos que ser observadores imparciais e tirarmos vantagens das coisas em vez de ficar lamentando. A vantagem é: avanço moral, avanço da capacidade dos seres humanos de ficarem sozinhos e aprendizado para resolver essa situação de incompletude. Essa é uma novidade que mata a ideia do amor no seu sentido tradicional, como remédio para a incompletude. O amor como remédio tem que desaparecer porque é um mau remédio”.

 






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