Embora muitos ainda acreditem que o brincar seja um passatempo ou uma
atividade cujo objetivo seja apenas distrair e entreter crianças, inúmeros estudos sobre desenvolvimento e aprendizagem, mostram que o brincar não se resume apenas
a isso. O brincar oferece a criança a possibilidade de desenvolver integralmente: o seu cognitivo, o seu corpo, a sua mente, as suas emoções e principalmente o seu modo de ser e estar no mundo, interagindo, experimentando, criando, explorando.

“Brinque com os seus filhos enquanto eles querem brincar com você”

Esta frase foi dita por uma mãe, num testemunho pessoal escrito no site Mágicas de Mãe, onde ela contou que certa feita sua filha de cinco anos lhe disse que gostava mais do pai do que dela, pois o pai brincava mais com ela. A mãe ficou pensativa sobre o que a filha disse e ao invés de tentar se justificar colocando a culpa no trabalho, no cansaço, no celular e tal, resolveu falar com o chefe e exigir que seu direito de estar com a filha fosse respeitado, e assim passou a tirar um tempo exclusivo para brincar com a filha. Os resultados positivos dessa iniciativa surgiram no primeiro mês:

“Após aquele dia, me transformei em outra mãe. Brinquei todos os minutos possíveis com meus filhos e sei que deixei uma bela lembrança para eles. E por incrível que pareça, apareceu um resultado inesperado no fim do mês. Antes eu não reparava, porém gastava muito dinheiro em brinquedos para as crianças. Elas sempre tiveram tudo o que eu nunca tive na infância. Acho que instintivamente e sem perceber, eu usava o dinheiro para tentar compensar as horas que não estava presente. Ou seja, trabalhava muito com horas extras para ganhar dinheiro que eram gastos em brinquedos. Hoje isso mudou completamente. Eu sou o maior brinquedo das crianças. Elas nunca mais pediram todos aqueles brinquedos que viram nos comerciais de TV. Ou seja, o meu dinheiro das horas extras não veio mais, entretanto, o dinheiro que tenho no fim do mês é o mesmo”.

Brincar é trabalho de criança

Inspirados neste testemunho buscamos os saberes pedagógicos acerca da importância do brincar para criança. Especialmente a importância dos pais brincarem com os filhos. O brincar configura-se em espaço pedagógico e psicopedagógico em que a criança aprende e se desenvolve. Nesse processo, ela brinca de diferentes maneiras: sozinha, observando os outras, defendendo seus suportes, com outras crianças sem interação, interagindo e finalmente cooperando, de acordo com o momento e seu estado emocional.

Brincar é o trabalho da criança. Brincar é atividade séria e importante para o desenvolvimento da criança e, como tal, requer organização e planejamento. Além de permitir sua inserção social e cultural, as brincadeiras e os objetos de brincar são representantes do tempo histórico, da sociedade e da cultura de que fazemos parte.

Como preparar um espaço para brincar e organizar o tempo de brincar? 

A ação de brincar requer a destinação de um espaço físico e a criação de
um espaço psicológico. O espaço físico é o local em que a criança realiza suas brincadeiras e o espaço psicológico é “à disposição para brincar”.
É extremamente importante garantir espaços para brincar. Organizar locais especiais, selecionar materiais e criar um clima que convide às crianças a brincar. Cantinhos para brincar são espaços convidativos para essa ação e podem ser escolhidos pelas crianças ou indicados pelos pais. É importante destacar que nem sempre o brincar é prazeroso, pois muitas crianças apresentam ansiedade, angústia e sofrem nas atividades lúdicas, o que precisa ser observado e respeitado. Toda criança é “unimultipla”.

O brinquedo é só um suporte para o brincar 

Os brinquedos são produtos culturais, históricos e sociais, retratam costumes, valores, hábitos e crenças. Representam relações sociais e econômicas. Cabe ainda, ao adulto que seleciona os brinquedos que serão apresentados às crianças, escolher objetos de brincar mais antigos, pertencentes a outras culturas, outros grupos sociais, outras gerações, além de oportunizar a confecção de brinquedos, momento extremamente rico de criação, desenvolvimento e aprendizagem.

Ouvimos com frequência adultos reclamarem que as crianças não sabem brincar. As crianças brincam quando lhes apresentamos possibilidades de brincar. É preciso que alguém as convide para brincar, lhes apresente objetos de brincar diversificados e organize atividades lúdicas em diferentes tempos e espaços. Muitas vezes guardamos os brinquedos e não permitimos que as crianças os utilizem; devemos deixar que brinquem bastante com eles, pois são preciosos enquanto objetos de brincar.

20 fascínios que só os pais que brincam com os seus filhos sentem

O desenvolvimento é um processo em que o brincar se apresenta como condição possibilitadora. O adulto e outras crianças mais velhas ou mais experientes, enquanto mediadores, apresentam à criança objetos e possibilidades de exploração e interação que vão estimular o seu desenvolvimento e a sua aprendizagem integral.  Somente os pais que brincam com os seus filhos sentem fascínio ao vislumbrar essas 20 coisas acontecendo no desenvolvimento deles

Enquanto a criança brinca, ela:

  1. Expressar seus sentimentos e suas emoções por intermédio de palavras e gestos;
  2. Representa em seus desenhos, falas e comportamento, o modo como está enxergando o mundo;
  3. Vê o sentido e o significado do que ela está vivenciando no mundo;
  4. Imagina e cria;
  5. Organiza seu pensamento;
  6. Desenvolve sua atenção e concentração;
  7. Raciocina de forma lógica e organizada;
  8. Apreende novos vocabulários;
  9. Aprende novas histórias e organiza as memórias.
  10. Conhece e cuida do corpo;
  11. Conhece os próprios limites e potencialidades do seu corpo;
  12. Busca ter o equilíbrio e a prudência nos movimentos;
  13. Aprende a autorregulação do que é certo e errado;
  14. Respeita os outros e a si mesma;
  15. Compreende praticando o sentido de cooperação;
  16. Aprende a valor da bondade e da partilha;
  17. Aprende a lidar com as frustrações e com o não;
  18. Aprende a negociar, a dialogar, a revelar os sentimentos e pensamentos;
  19. Aprende ouvir e construir sentimento de empatia;
  20. Aprende a importância não apenas de seguir as regras, mas ser um membro participativo na construção delas.





Clara Dawn é romancista, psicopedagoga, psicanalista, pesquisadora e palestrante com o tema: "A mente na infância e adolescência numa perspectiva preventiva aos transtornos mentais e ao suicídio na adolescência". É autora de 7 livros publicados, dentre eles, o romance "O Cortador de Hóstias", obra que tem como tema principal a pedofilia. Clara Dawn inclina sua narrativa à temas de relevância social. O racismo, a discriminação, a pedofilia, os conflitos existenciais e os emocionais estão sempre enlaçados em sua peculiar verve poética. Você encontra textos de Clara Dawn em claradawn.com; portalraizes.com Seus livros não são vendidos em livrarias. Pedidos pelo email: [email protected]