Em 25 de novembro, quando os números do feminicídio voltam a nos assombrar, o Brasil expõe uma ferida que não fecha: 1.450 mulheres assassinadas em 2024, quase quatro por dia, esmagadoramente por parceiros ou ex-parceiros. É a prova concreta de que não estamos diante de casos isolados, mas de uma cultura inteira que ainda normaliza a posse, o controle e a violência como atributos da masculinidade. A queda tímida nas estatísticas engana; seguimos celebrando o empoderamento das meninas enquanto insistimos em formar meninos dentro do mesmo molde que historicamente autoriza a dominação. A violência contra a mulher não diminui porque, no fundo, ainda educamos nossos filhos como futuros donos: não como futuros pares. E enquanto a sociedade não admitir esse erro inaugural, nenhum número descerá do patamar vergonhoso em que está.
Os relacionamentos interpessoais são complexos e um aprendizado constante. No início de um relacionamento, é esperado que haja uma tendência a idealizar a pessoa amada e a não perceber os seus defeitos. Quando uma pessoa se apaixona, tudo parece mágico e o coração bate mais forte. Contudo, essa idealização pode levar a uma percepção distorcida. Por exemplo, é comum justificar um comportamento problemático dizendo: “Ele não é ciumento, é louco por mim”, ou “Ela não é controladora, apenas não quer me perder”. Outras justificativas incluem acreditar que a falta de diálogo se deve ao fato de que “o amor fala mais alto”, ou que a agressividade foi apenas um momento ruim, seguido por um retorno “ao normal” com flores e jantares românticos.
Para que a saúde de um relacionamento ocorra, é um “contrato” no qual as partes envolvidas devem assumir a responsabilidade por suas atitudes, buscando o equilíbrio e o bom senso. Uma relação deve ser pautada no dar e no receber afeto e companheirismo.
Sinais de um relacionamento abusivo
1. Hostiliza e/ou humilha: O abusador deprecia o que você faz, não reconhece seus esforços e tenta colocar o parceiro em situação de inferioridade. Normalmente, a pessoa que abusa teve uma história de abuso e maus-tratos e tende a reproduzir o mesmo em seus relacionamentos.
2. Extremamente ciumento, controlador e possessivo: Comportamentos extremos não são normais. O ciúme excessivo manifesta-se ao procurar bilhetinhos, vasculhar o celular, ou seguir o parceiro, indicando que o relacionamento está doente, pois a base do convívio é a confiança.
3. Utiliza-se de ameaças ao tentar terminar: Pessoas controladoras e manipuladoras são imaturas, egoístas e de baixa autoestima. Se não respeitarem sua decisão de terminar, podem usar birras, chantagens emocionais, e agressões psicológicas, morais e até físicas.
4. Utiliza-se de chantagem emocional ou intimidações: Abusadores podem ser generosos inicialmente, mas isto pode ser uma estratégia para mascarar as intenções reais: conhecer e explorar suas fragilidades.
5. Tenta te convencer que você está ficando louco(a) (gaslighting): Pessoas com perfil abusivo tentarão provar de todos os modos que estão com a razão, mesmo que não a tenham, chegando a dizer que o parceiro perdeu a capacidade racional. Além disso, o abusador se faz de vítima, fazendo o outro sentir-se culpado.
6. Te afasta de amigos e familiares: A redução da vida social é proposital para aumentar o controle e a manipulação contra a vítima. É crucial trabalhar a autoeficácia e a independência, emocional e principalmente financeira.
7. Não tem o hábito de cultivar o diálogo: Evitam discutir a relação, pois isso ameaça tirá-los do comando. Quando o aspecto negativo se torna plausível, eles “perdem a cabeça”.
8. Apresenta arrependimentos transitórios: Prometem mudanças comportamentais que dificilmente se cumprem, pois a mudança de hábitos exige trabalho e envolvimento.
Quando o respeito deixa de existir, o campo se torna fértil não só para a violência física, mas também para a violência psicológica, patrimonial, moral e sexual.
Consequências na Saúde Mental
Algumas pessoas não percebem que estão em relações pautadas em abusos emocionais. A violência emocional sempre antecede todas as outras, mas se apresenta de forma velada e dissimulada, através de sarcasmo, desvalorização, ridicularização, exclusão e cerceamento. Quem está em uma relação abusiva, muitas vezes percebe esses comportamentos como normais, até que eles se incrementem e se estratifiquem. Em casos mais graves, a vítima tem consciência do abuso, mas acredita que merece e sente-se culpada.
As vivências de abuso, seja de ordem psicológica, física, moral, sexual ou patrimonial, trazem consigo uma alta carga de estresse e ansiedade. Isso afeta a autoestima e a autoimagem, sendo um campo fértil para o desenvolvimento de Depressão, Ansiedade, insonia crônica, dentre outros distúrbios. Vivências emocionais destrutivas também podem se manifestar no corpo na forma de doenças psicossomáticas, que são um apelo para que estas “dores emocionais” sejam “curadas” ou ressignificadas. É necessário iniciar um processo de ressignificação emocional e quebra de padrões repetitivos disfuncionais. Para a ressignificação de abuso emocional, é recomendado procurar a ajuda de um psicólogo. A terapia de casal é indicada, mas se a relação chegou ao limite, medidas institucionais devem ser tomadas.
1. Contexto Histórico e Definição da Violência
O Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher é comemorado em 25 de Novembro, data estabelecida em 1999 pela Organização das Nações Unidas (ONU), através de Assembleia Geral, para a sensibilização e erradicação da violência contra as mulheres. A data homenageia as Irmãs Mirabal, perseguidas, presas e assassinadas em 1960 pelo ditador dominicano Rafael Trujillo, por lutarem pela igualdade de gênero e questionarem a dinâmica social da ditadura. A violência é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) como o “uso intencional da força ou poder… que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações”. Qualquer tipo de violência é uma violação da dignidade, da ética e do respeito aos Direitos Humanos.
Apesar dos esforços históricos, a violência contra a mulher ainda subsiste, sendo por vezes velada e silenciosa (como a violência psicológica), e outras vezes ostensiva. A mulher foi historicamente um grupo excluído e marginalizado. A violência contra elas é interpretada como uma construção sociocultural que foi perigosamente internalizada como algo normal e legitimado. Por ser uma construção social, a violência de gênero pode ser desconstruída através da educação e do respeito à cidadania, educando os meninos quanto ao respeito à mulher, principalmente nas escolas. Onde há dominação e imposição de poder, há violação de direitos humanos, constrangimento, conflitos, sentimento de posse e objetificação do outro. A violência contra a mulher é um problema de saúde pública. As mulheres são frequentemente tidas como culpadas pela violência que sofrem, por não corresponderem às expectativas da masculinidade hegemônica ou aos papéis sociais pré-fabricados.
2. Dinâmicas Relacionais e Sinais de Alerta
No estágio inicial de um relacionamento, é esperado que haja uma tendência a idealizar a pessoa amada e a não perceber seus defeitos. Esta idealização pode levar a uma percepção distorcida, comum quando estamos apaixonados. Exemplos desta distorção incluem justificar ciúme extremo (“louco por mim”) ou controle (“não quer me perder”). Para a saúde de um relacionamento, as partes devem assumir a responsabilidade por suas atitudes, buscando o equilíbrio e o bom senso. Uma relação é um “contrato” de dar e receber afeto e companheirismo. Quando o respeito deixa de existir, o campo se torna fértil não apenas para a violência física, mas também para a violência psicológica, patrimonial, moral e sexual.
Sinais de um Relacionamento Abusivo (8 Características)
É crucial estar atento a estes sinais de um relacionamento tóxico:
1. Hostiliza e/ou humilha: O abusador deprecia o que o parceiro faz, não reconhece seus esforços e tenta colocá-lo em situação de inferioridade, frequentemente reproduzindo um histórico de abuso que ele próprio sofreu.
2. Extremamente ciumento, controlador e possessivo: Comportamento extremo não é normal, sendo possessivo e não protetivo. Manifesta-se ao vasculhar o celular ou seguir o parceiro. A base de qualquer convívio é a confiança.
3. Utiliza ameaças ao tentar terminar: Pessoas controladoras e manipuladoras são imaturas, egoístas e de baixa autoestima. Podem usar birras, chantagens emocionais e agressões psicológicas, morais e até físicas.
4. Chantagem emocional ou intimidações mesquinhas: A generosidade inicial pode ser uma estratégia para conhecer e explorar as fragilidades do parceiro.
5. Tenta te convencer que você está ficando louco(a) (Gaslighting): O abusador tenta provar que está com a razão, mesmo sem tê-la, chegando a dizer que o parceiro perdeu a capacidade racional. Também se faz de vítima, fazendo o outro se sentir culpado.
6. Afasta de amigos e familiares: A redução da vida social é proposital para aumentar o controle e a manipulação. É vital trabalhar a autoeficácia e a independência, principalmente financeira.
7. Não cultiva o diálogo e se “altera” com facilidade: Evita discutir a relação porque isso ameaça tirá-lo do comando ou controle. Quando seus defeitos se tornam plausíveis, ele “perde a cabeça”.
8. Apresenta arrependimentos transitórios: Promete mudanças comportamentais que dificilmente se cumprem, pois a modelagem de novos hábitos exige trabalho e envolvimento.
3. O Ciclo da Violência
A violência doméstica chega geralmente de forma sorrateira, começando com expressões menos agudas como chantagem, humilhação e desvalorização veladas, que se cronificam e são percebidas como normais. No entanto, ela tende a se reiterar e agravar-se, progredindo para agressões mais severas (empurrão, tapas, socos). A violência emocional é aquela que sempre antecede todas as outras.
O ciclo da violência é um padrão de agressão que motiva muitas mulheres a não denunciarem, devido à esperança de que o agressor mude. É composto por três fases distintas:
1. Criação e Aumento da Tensão: O comportamento do homem se torna mais ríspido e intolerante, atingindo um ponto crítico.
2. Agressão Deflagrada: Ocorre a agressão propriamente dita (física, psicológica, sexual ou mista).
3. Parsimônia (Amor ou Reconciliação): O homem demonstra arrependimento, justifica o comportamento com estresse, pede desculpas e promete mudar. A mulher acredita, retorna à rotina, e o ciclo se reinicia com uma nova fase de tensão.
4. Consequências na Saúde Mental e Intervenção:
Algumas pessoas não percebem que estão em relações de abuso emocional, pois a violência emocional (sarcasmo, desvalorização, exclusão) é dissimulada. O caso mais grave ocorre quando a vítima tem consciência do abuso, mas acredita que merece ou se sente culpada. As vivências de abuso trazem alta carga de estresse e ansiedade, afetando a autoestima e a autoimagem. Este é um campo fértil para o desenvolvimento de Depressão, Ansiedade, insonia crônica, e outros distúrbios. As “dores emocionais” podem se manifestar no corpo na forma de doenças psicossomáticas, que apelam para que estas dores sejam trabalhadas e ressignificadas. Se a pessoa sofreu abuso no passado, há a possibilidade de ela inverter os papéis (tornando-se abusadora) ou repetir os padrões de subjugação. É necessário iniciar um processo de ressignificação emocional e quebra de padrões disfuncionais. É recomendado procurar a ajuda de um psicólogo. A terapia de casal é indicada, mas se a relação atingiu o limite, medidas institucionais devem ser tomadas. Agredir o parceiro verbalmente, psicologicamente ou fisicamente deverá sempre ser erradicado do convívio dos parceiros.
5. Serviços de Ajuda e Recursos
Para dirimir conflitos, é sugerido buscar apoio da família e amigos (embora o abusador frequentemente afaste a vítima) e procurar Instituições Governamentais e Não-governamentais para pedir ajuda ou prestar queixa, especialmente se houver medo de represálias.
Onde e como denunciar a violência contra a mulher no Brasil
- Telefone: Secretaria da Mulher – Disque Denuncia: 180 (serviço gratuito, 24 horas, que auxilia nos encaminhamentos legais).
- Sites: Campanha do Laço Branco (www.redesaude.org) e CFEMEA (www.cfemea.org.br).
Em Portugal
- Telefones: Serviço de Informação a Vítimas de Violência Doméstica (800 202 148); Associação Portuguesa de Apoio à Vítima – APAV (707 200 077); Associação de Mulheres Contra a Violência (213 802 160).
- Aplicativo: AppVD (Apoio de violencia doméstica), que permite fazer queixas de forma rápida e segura.
- Sites: www.apav.pt e o site da Polícia.

