Categories: Atualidades

Precisamos criar meninos que não cresçam se achando “donos” de mulheres e filhos

A chacina em Campinas (SP), que chocou o País na virada do ano de 2016, deixou, além do próprio autor, 12 pessoas mortas, 9 eram mulheres. Duas cartas reveladas pelo site do Estadão mostram que Sidnei Ramis de Araújo tinha ódio de mulher.  Além da ex-mulher Isamara Filier e do filho, de 8 anos, Araújo matou amigas e parentes de Filier naquela noite de sábado.

Um marido desempregado entrou em desespero e matou sua mulher e seus filhos na Barra da Tijuca, RJ. Outro pai matou os filhos de 3 e 4 anos e deixou uma carta alegando que o “componente infidelidade” foi a motivação do crime. Um ex-marido matou a filha de 7 anos e feriu a ex-mulher porque, segundo familiares, não aceitou o fim do relacionamento. Outro é suspeito de matar filha de 5 anos na Tijuca e a notícia diz que ele teria tido um surto por estar desempregado.

Todas essas notícias têm algo em comum: esses homens decidiram quem viveria, quem morreria e quem sofreria ou não por conta das mortes. Os quatro agiram como se fossem deuses soberanos que decidem sobre a vida alheia, sobretudo de suas mulheres e filhos. Homens violentos sufocam, jogam do prédio, esfaqueiam e atiram em seus filhos e suas mulheres porque sentem-se donos deles.

Homens que cometem crimes para punir mulheres são descriminalizados pela sociedade por conta do seu “desespero”, da sua “loucura” e das suas “paixões”. Por outro lado, a mulher – vítima – aparece no papel de vilã: “infiel”, “rompeu o relacionamento”, “brigava com ele”.

Homens que cometem essas barbaridades não são dignos, bons pais de família, deprimidos ou preocupados com o futuro da família. Eles são apenas assassinos misóginos, objetificadores  cuja dignidade é tão frágil quanto a vida. É importante entender que romantizar esses crimes é validar e legitimar a violência contra mulheres.

É preciso criar meninos que se tornem homens que saibam que esposas e filhos não são seus objetos, que eles não são donos dos seus corpos e de sua vida. É urgente que eles saibam, desde cedo, que podem expressar seus sentimentos de outras formas, que é permitido chorar, que pedir ajuda é essencial e que precisam aprender a lidar com os “nãos” da vida.

Precisamos criar meninos que saibam perder e errar sem precisar agir com brutalidade. Precisamos desconstruir essa criação de meninos que se baseia em banalizar o bater, o lutar, as agressões. Brutalidade não é “coisa de menino”. É coisa de agressor. Que aprendam os meninos de hoje para que não se tornem os futuros agressores e assassinos.

Texto de  Dany Santos – publicado originalmente sob o título: Homens, vocês não são donos de mulheres e filhos – Extraído de  Huffpost Brasil – Atualizado e adaptado por Portal Raízes

Portal Raízes

As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

Recent Posts

Mesmo em repouso, quem convive com fibromialgia gasta energia como se estivesse numa maratona

Quem convive com fibromialgia ou dor crônica sabe bem como é acordar cansado, mesmo depois…

1 semana ago

O programa de 8 semanas para o bem-estar emocional, segundo médico de Harvard

Vivemos em uma era que promete bem-estar em cada esquina: aplicativos de meditação, séries motivacionais,…

2 semanas ago

A dor causada pela rejeição é igual a dor aguda no corpo, diz a neurociência

A dor causada pela rejeição é igual a dor aguda no corpo e afeta a…

3 semanas ago

“Aceitar o meu TDAH me fez parar de lutar contra mim mesma” – Ana Beatriz Barbosa

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica caracterizada por…

3 semanas ago

“Amar os filhos é também de dizer NÃO ao que tem que ser recusado” – Cortella

No âmago da criação, estamos imersos num paradoxo: amar significa acolher, mas também recusar. Essa…

1 mês ago

Depressão e o Esquema de Fracasso: quando a infância deixa marcas na vida adulta

A depressão é um distúrbio do humor que vai muito além da tristeza passageira. Ela…

1 mês ago