Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS) os homens quando atingem um alto grau de depressão, são 3 vezes mais propensos a cometer suicídio do que as mulheres. A depressão nos homens se configura com elementos psico-sócio-culturais muito particulares e por isso precisa ser observada também de modo particular.

A depressão quando não é sazonal, ou seja, aquela que ocorre durante ou após eventos traumáticos, é resultante de uma combinação de fatores como histórico pessoal, traços de personalidade, hereditariedade, cultura e elementos externos que disparam um processo silencioso e corrosivo da capacidade de sentir prazer na vida, do controle da negatividade e da resiliência frente aos impasses.

Dentro de realidades de emoções complexas, o homem fica paralisado, pois não foi socialmente aparelhado para lidar com a fragilidade de suas emoções. Assim, a sensação de impotência psíquica nos homens, contribui para a construção dessa jaula social que cria uma barreira invisível entre a angústia e como lidar com ela. Os homens não se sentem à vontade para confidenciarem os seus medos, dores emocionais, frustrações, fraquezas e o vazio existencial. Eles foram ensinados a não fraquejarem, a não chorarem, a não pedirem ajuda… Assim, parece mais corajoso e másculo, optar pelo autoextermínio, seja físico ou psicossocial.

Sinais de depressão nos homens

O primeiro sintoma da depressão masculina é não ter a capacidade de reconhecê-la por conta própria. Cada pessoa pode apresentar sintomas diferentes, mas na maioria dos casos, as pessoas que foram diagnosticadas com depressão apresentaram as seguintes queixas: insônia por mais de 15 dias ou sonolência sem causa; falta de apetite extrema; tristeza profunda; melancolia;  falta de interesse em fazer coisas que gostava; ostracismo; automutilação; ideação suicida; imersão em comportamentos viciosos e autodestrutivos.

Assim, o homem confrontado com o estigma social, o medo da validação alheia, e com um autojulgamento deturpado, dificilmente procurará ajuda de amigos, familiares e/ou profissional. Ele vai camuflar a sua dor de existir em frases do tipo:

  • Estou cansado;
  • Não aguento meu chefe/trabalho;
  • Tenho raiva de tudo e estou perdendo o controle com facilidade;
  • Minha parceira está reclamando do meu jeito;
  • Minha família acha que tenho um problema, mas eles estão enganados.

O ponto-cego da depressão que acomete o homem é a de não se sentir à vontade para admitir que tem uma fraqueza, muito menos emocional. Então, ele tenta, inconscientemente, se convencer de que está apenas estressado, exaurido mentalmente ou até mesmo chapado, mas nunca abatido ou emocionalmente fragilizado. E dessa maneira, os homens, não reconhecendo os seus sintomas como uma possível depressão, não buscam a ajuda e o tratamento de que necessitam.

O Dr. William Pollack, um psicólogo de Harvard,  diretor do Centro de Homens no Hospital McLean, argumenta que a taxa de depressão masculina pode ser quase igual ou até maior do que a taxa feminina. “Você só tem que olhar para a taxa de suicídio, ele diz: Suicídios nos homens superam os suicídios em mulheres por quatro a um. A proporção é alta demais para dizer que o número de depressão em homens é menor que nas mulheres”, diz ele.

Os sinais da depressão nos homens não se encaixam no manual de diagnósticos

A depressão diagnosticada clinicamente parece basicamente da mesma forma em ambos os sexos. Entretanto, Pollack e outros especialistas, afirmam que a depressão no homem passa despercebida porque, ao contrário da depressão na mulher, muitas vezes, no homem, os sinais, aparentemente, não se encaixam no manual de diagnósticos. Pelo menos não, nos estágios iniciais, quando é mais fácil intervir. E isso se dá pela dificuldade masculina de admitir que possa estar vivenciando uma crise existencial daquelas.

“Os homens não costumam falar sobre sentir-se triste ou deprimido, por si só. Eles tentam ignorar os sintomas, considerando-os como um mal estar sentimental passageiro, que ele é capaz de resolver sozinho. Outra coisa é que os homens têm uma tendência maior a ficarem irritados ou com raiva. Essas emoções não fazem parte de um diagnóstico clássico, então muitos médicos ignoram os sinais de alerta”, diz o Dr. Sam Cochran, psicólogo especialista em aprofundamento da psicoterapia em homens.

“Os homens tendem a negar os sentimentos desagradáveis. Se eles se sentem mal, eles estão propensos a se envolverem em brigas no trabalho, em casa ou longe da família e dos amigos. E mais significativamente, os homens tendem a se envolverem em bebida ou drogas: subterfúgios encontrados para amenizar suas angustias”, acrescenta Dr. Fredric Rabinowitz, psicólogo da Universidade de Redlands, na Califórnia, que trabalha principalmente com homens.

Hormônios podem desempenhar um papel

Mesmo que os homens não experimentem os drásticos altos e baixos hormonais atribuídos à depressão feminina, os pesquisadores estão começando a considerar se uma diminuição nos níveis de testosterona afeta o humor dos homens. Estudos encontraram resultados conflitantes. Especialmente nas fases de poda neural: 12 anos, 19 anos, 30 anos, 60 anos.

Quer os homens sofram, ou não, mais do que as estatísticas mostram, não há dúvida de que muitos homens estão deprimidos. E, como as mulheres, os especialistas concordam que quanto mais tempo eles demorem a buscar ajuda, mais forte será o impacto negativo em suas vidas. Busque ajuda. Não se isole na dor. Converse com um amigo, procure um psicólogo e depois tratamentos alternativos como correr, dançar, nadar, cantar, pintar, escrever, lutar, tocar um instrumento, ouvir música, ler poesia, fazer Yoga, meditação…

OBSERVAÇÃO: Este artigo não tem pretensão de fazer diagnósticos. Nosso intuito é sugerir reflexão e debate positivo. Procure sempre um clínico geral e um psicólogo.

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