Essa tendência chamada de “detox de homem” ou “boy sober” pode soar como uma provocação ou até uma rejeição direta ao masculino, mas olhando pela psicologia e pelo estudo da parentalidade, ela traz sinais que merecem atenção, especialmente para os homens.

Isso nos revela que muitas mulheres sentem necessidade de se afastar de relacionamentos porque se sentem exaustas, sobrecarregadas emocionalmente ou até feridas. Não é um movimento novo contra o amor ou a intimidade, mas uma forma de preservar a saúde mental e encontrar espaço para autocuidado. Mulheres estão focando em si mesmas, priorizando amizades, carreiras, viagens e aderindo a abstinência voluntária de relacionamentos afetivo-sexuais com homens, especialmente pela experiencia frustrante de relacionamentos anteriores.

E tudo isso não acontece de forma isolada. É o reflexo de uma cultura que ainda coloca sobre as mulheres grande parte da carga do cuidado, da disponibilidade emocional e até da responsabilidade de sustentar vínculos. Quando um número crescente de mulheres sente que precisa de “detox” do masculino, isso denuncia um desequilíbrio relacional, e fica nítido que em muitos lares, empresas e relações, os homens ainda não aprenderam a dividir responsabilidades, se autorregular emocionalmente e se abrir ao diálogo.

Na parentalidade, o impacto é ainda mais evidente, pois os pais que não cuidam da própria saúde emocional tendem a reproduzir padrões de silêncio, dureza ou ausência com os filhos. As crianças e adolescentes crescem vendo mães sobrecarregadas e pais distantes, e aprendem que afeto, empatia e cuidado não são tarefas masculinas, mas vale lembrar aqui que o cuidado é humano. Esse ciclo alimenta justamente a necessidade que vemos hoje, ou seja, mulheres buscando espaço longe da masculinidade adoecida para respirar, às vezes até sobreviver.

O “detox de homem” não é um ataque, mas talvez um espelho. Ele mostra que precisamos reconstruir nossa forma de estar em relação. E isso passa por 4 pilares:

  • Aprender a reconhecer e expressar sentimentos sem medo de parecer fraco.
  • Compartilhar de forma justa o cuidado da casa, dos filhos e da vida emocional da família.
  • Rever crenças que confundem masculinidade com poder, controle ou insensibilidade.
  • Entender que presença não é apenas física, mas afetiva, empática e disponível.

Se olharmos pelo lado social, o fenômeno também dialoga com a crise de saúde mental que atravessamos, de aumento de ansiedade, solidão, dificuldades de comunicação e fragilidade nos vínculos. O que está em jogo hoje não é apenas o comportamento individual dos homens, mas um modelo de masculinidade que se construiu historicamente sobre o afastamento da sensibilidade, do diálogo e da vulnerabilidade.

Se as mulheres estão escolhendo pausas dos homens, talvez seja porque eles ainda não escolheram pausar ou rever velhos padrões.

A verdadeira pergunta que fica é: Estamos dispostos a transformar a masculinidade em algo que não seja um peso, mas um espaço de cuidado, parceria e crescimento mútuo?






Cid Vieira é educador parental, especializando em Parentalidade Positiva.