25 de janeiro de 2019, sexta-feira, horário de almoço. Você se lembra o que estava fazendo na ocasião, querido leitor, querida leitora? Bem, para quem estava presente ou tinha conhecidos nas dependências na mina do Córrego do Feijão, região rural do município de Brumadinho, Minas Gerais, é impossível não lembrar. Não lembrar das 270 vítimas fatais do deslizamento de minério, segundo o site oficial da Vale.

E já se passaram 4 anos dessa tragédia que é fácil presumir que não foi um acidente, pois a mineradora sabia do risco envolvendo a barragem B1 e tinha, inclusive, analisado uma situação de ruptura hipotética, por meio do Plano de Ação de Emergência Para Barragens de Mineração (PAEBM), a previsão de mortos: cerca de 200, por não haver tempo hábil de escape para quem estivesse a menos de 2 quilômetros da mina, dadas a força e a velocidade dos rejeitos.

Mais de 1.400 dias depois do acidente, ainda há 3 pessoas desaparecidas e ninguém foi de fato responsabilizado pelo acontecido. De acordo com informações do G1 MG, o Ministério Público Federal, ofereceu uma denúncia nesta terça, 24, à Justiça Federal, que foi aceita, contra 16 pessoas e as Empresas Vale e Tùv SÙd, pelo rompimento da barragem no Córrego do Feijão.

Ainda sobre informações apuradas pelo G1 MG, os envolvidos foram acusados por homicídio qualificado; crimes contra a fauna; crimes contra a flora e crimes de poluição. Ao contrário do que se pensa, a vida de quem sobreviveu ao episódio, não foi devastada só pelas perdas irreparáveis. Não. Em função da toxidade dos rejeitos de minério, a pesca na bacia do Rio Paraopeba, por exemplo, foi proibida.

Por outro lado, segundo matéria veiculada no site do Jornal Estadão, as ações da Vale caíram por volta de 25%, algo como 70 bilhões em valor de mercado. No dia do ocorrido, as negociações da bolsa estavam suspensas em decorrência do aniversário da cidade de São Paulo. As ações da empresa só voltaram a serem vendidas no dia 28/1, cotadas a R$30,7.

Entretanto, menos de 1 ano após a tragédia anunciada, a mineradora já havia recuperado seu lucro. Um lucro obtido sobre a morte de 270 pessoas, 3 delas ainda desaparecidas e das famílias inteiras que perderam tudo e precisaram abandonar os locais que viviam ou que tinham comércios. A certeza da impunidade e os valores ínfimos de indenização às vítimas desse tipo de acidente, será sempre mais vantajoso para as empresas que o custo da prevenção segundo as normas internacionais de segurança determinam.

Por Juliana Santelli, jornalista, jovem, negra, PCD.  Autora do livro: “Entre Vistas” sobre a maternidade solo na sociedade brasileira pós-moderna (prelo).

 






Juliana Santhele é jornalista, jovem, negra, PCD. Colunista do Portal Raízes, ouvinte de podcast nas horas vagas, leitora do que chama a sua atenção. Autora do livro: "Entre Vistas" sobre a maternidade solo na sociedade brasileira pós-moderna (prelo).