Acordo preguiçoso. Sol doira na Austrália, Sydney. Manhã limpa. Céu azul. Diferentemente de Tóquio. Amanheceu chovendo, forte. Em Toronto, nevou. Coisa rara. A taxa de desemprego aumentou no Brasil. Chegou em 568 o número de homicídios em Santa Catarina.

Converso com meus amigos. Muitos amigos. Atualizo a prosa com um querido de Minas. Expresso-me diante de noticiários políticos. Arranjo alguns inimigos.

Examino, enquanto almoço, o que as pessoas estão comendo. Vários restaurantes. Vejo um parto. Uma bela montanha, no Alasca. Uma caverna misteriosa. A ciência anuncia que um homem chamado Noé nunca existiu. Avalio minha fé. Considero a possibilidade de apostatar. Vejo um homicídio. Uma música nova, do cantor do momento. Um pronunciamento papal sobre a paz mundial. E, um aborto caseiro.

PIB sobe. Dólar cai. Nova lei de trânsito entra em vigor. Cachorro morre afogado. Pegadinha dá errado. Grevistas param empresa. Político desvia verba pública. Bilhões. Justiça seja feita. Condenado à 4 meses de cadeia. Lutador pego no doping. Recebo ofertas imobiliárias. Vejo fotos. Interesso-me. Posso comprar em um clique. Empolgo-me.

Noite cai. Céu estrelado no Rio de Janeiro. Significa: sol no dia seguinte. Lua cheia em Paris. Faz muito frio na Rússia. Houve um terremoto na Índia, milhares de mortos e feridos. Ataque terrorista em Nova York. Emociono-me com a bela primavera no Canadá. E, com pessoas distribuindo cestas básicas no Haiti.

Repentinamente, uma dor feroz perturba-me. Vem da nuca. Espreguiço-me, a fim de aliviar. Espanto-me. Estou na sala de aula, na faculdade. Todos estão de cabeça baixa. Olhos fixos. Distraídos. Inclino-me novamente para baixo, e atualizo meu feed…

Texto de Willian Ricardo Soares, escritor.






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