Atualidades

É mentira que bicarbonato de sódio elimina agrotóxicos

A quantidade de agrotóxicos servidos na sua mesa não para de aumentar. Apenas em cinco meses, o governo federal aprovou o registro de 169 pesticidas.  Trata-se de uma tendência de alta já identificada por entidades de defesa do meio ambiente. Em 2015, 139 agrotóxicos aprovados, já em 2018, 450.

É fake news a notícia de que lavar os alimentos com água e bicarbonato de sódio neutraliza os agrotóxicos presentes neles. A informação surgiu a partir de um suposto estudo realizado na Universidade de Massachusetts, nos EUA, onde afirmam que os testes foram feitos com maçãs, a fruta que apresenta os maiores níveis de resíduos de pesticidas, segundo o estudo, após ficarem imersos por 15 minutos em água com bicarbonato, os exemplares testados apresentaram 96% menos agrotóxicos. Entretanto, essa notícia é falsa e feita para silenciar o uso indiscriminado de agrotóxicos proibidos.

Segundo a profissional Aline Rissatto, certificada pela escola de gastronomia Le Cordon Bleu, de Paris, “mesmo diante de resultados positivos para a remoção do agrotóxico das cascas da maçã, o bicarbonato não conseguiu remover a parcela de agrotóxicos da polpa da fruta, correspondente a 4% a 20% do volume de agrotóxicos presente no alimento”.

O doutor em química orgânica Carlos Cerqueira compartilha do ponto de vista. Para o especialista em Sustentabilidade e Meio Ambiente, que também cita a polpa da fruta, “são necessários mais estudos em outros tipos de alimentos (pois a interação do bicarbonato com a casca é importante para a efetiva remoção do pesticida) e diferentes pesticidas para atestar que o método funciona para qualquer tipo de alimento”.

É claro que você pode lavar as frutas e legumes com detergente neutro, depois colocar de molho no bicarbonato ou gotinhas de água sanitária, e em seguida colocar em água com vinagre para eliminar germes. O que você puder fazer para neutralizar parte desses agrotóxicos e eliminar bactérias, você deve fazer. Entretanto, a melhor saída depois de tudo isso, é descascar antes de consumir, uma vez que os agrotóxicos se concentram em maior quantidade na casca.

A falsa notícia tenta amenizar os malefícios do uso indiscriminado de agrotóxicos, mas não podemos nos calar contra isso.

Pensando ainda em alimentação e meio ambiente, a discussão sobre a nossa saúde está em foco com os absurdos da “PL do Veneno”, Projeto de Lei 6299/02 que visa atualizar a lei dos agrotóxicos, de 1989, mudando o termo “agrotóxico” para “defensivo fitossanitário” – entre outras coisas que favorecem o agronegócio.

Um estudo realizado pela Universidade do Texas sugere que o glifosato possa afetar o microbioma intestinal das abelhas, deixando-as vulneráveis a infecções.  Em 2015, o Centro Internacional de Pesquisas sobre o Câncer, ligado à Organização Mundial de Saúde, indicou que o glifosato teria um provável efeito cancerígeno em humanos, associada ao surgimento de câncer de mama e de próstata. E a cientista Stephanie Seneff, que já publicou mais de 170 artigos acadêmicos revisados ​​por pares, sugeriu que o glifosato é passado para criança pelo leite materno e ele pode ser o responsável pelo alto crescimento de crianças com autismo.

Diante de tudo isso, a Anvisa concluiu que é necessário uma reavaliação toxicológica do composto, para que ele possa continuar sendo vendido no Brasil. Antes da decisão final sobre o assunto, no entanto, a Anvisa realizou uma consulta pública durante 90 dias, para que a sociedade pudesse se manifestar. A consulta pública terminou em julho de 2019 e os resultados ainda não foram divulgados.

 

Portal Raízes

As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

Recent Posts

6 maneiras de saber se você está vivendo um amor comprometido e verdadeiro – Com bell hooks

No imaginário social — cultivado por séculos e reforçado pela indústria cultural — o amor…

2 dias ago

“A dor é o tema central do vício. Só quem está com grande dor, deseja anestesia-la” – Gabor Maté

Em uma sociedade que constantemente exige produtividade, autocontrole e positividade, é desconcertante — e doloroso…

2 dias ago

“Um dia o amor será para a mulher o que é para o homem: uma fonte de vida e não um perigo mortal” – Simone de Beauvoir

Ser mulher é carregar, ainda hoje, o peso histórico de não ter sido considerada plenamente…

5 dias ago

10 maneiras de tornar a vida mais interessante e desejável – Segundo Contardo Calligaris

Os seres humanos sempre questionaram o sentido da vida: nascer, crescer, reproduzir e morrer. É…

1 semana ago

70% dos relacionamentos duradouros começaram com amizade sem interesse em romance, revela estudo

Quando dois amigos se envolvem romanticamente, alguns podem argumentar que eles sempre foram sexualmente atraídos…

2 semanas ago

O Impacto das Apostas na Saúde Mental: Um Alerta Necessário

Nos últimos anos, o crescimento exponencial do setor de apostas tem transformado a forma como…

2 semanas ago