A depressão é um dos transtornos do humor mais comuns em todo o mundo e um dos problemas psicológicos mais tratados nas consultas com psicólogos e psiquiatras. Será, no entanto, que a depressão pode ser herdada?

Esta condição pode afetar qualquer faixa de idade, com uma sintomatologia diferente em cada etapa do desenvolvimento na qual a pessoa se encontra.

As causas da depressão foram e seguem sendo estudadas hoje em dia com o objetivo de melhorar a eficácia dos tratamentos que podem ser aplicados para combatê-la.

Uma das perguntas que mais frequentemente nos fazemos é se a depressão pode ser herdada. A resposta é, de acordo com inúmeros estudos, que a depressão tem um componente genético, assim como a maioria dos outros tipos de doenças.

Ao analisar o histórico clínico de um paciente, vemos que há uma porcentagem considerável de casos de depressão com antecedentes familiares, sejam esses de depressão ou de algum outro tipo de transtorno mental.

No entanto, isso por si só não determina que alguém vá herdar a doença, já que intervêm também uma série de outros fatores importantes para fazer com que a doença de fato se instale. Esses fatores envolvem os acontecimentos da vida da pessoa, os fatores sociais e também os psicológicos.

Há, então, pessoas que possuem uma maior vulnerabilidade do que outras para desenvolver uma depressão. Para essas pessoas, não apenas a genética determinará a “herança” da doença, mas todos os fatores anteriormente citados influenciam, cada um em sua medida.

Os estudos continuam investigando a questão genética

Segundo os estudos realizados envolvendo o componente genético da depressão, aparentemente existem alguns genes que estariam envolvidos, mas que são sempre influenciados pelo comportamento e pelos fatores ambientais.

Nas depressões chamadas de endógenas é possível ver, após uma avaliação da pessoa, que os fatores externos não são tão determinantes. Ou seja, nesses casos a depressão se deve a causas internas e orgânicas do funcionamento do nosso cérebro, que é onde melhor se pode analisar o componente hereditário.

Nesses casos, se a pessoa tem antecedentes familiares de depressão, pode haver um fator genético em jogo, mas mesmo assim esse nunca será determinante.

Na depressão, o funcionamento fisiológico do cérebro apresenta alterações em alguns neurotransmissores, responsáveis pela regulação das emoções. Para que essas alterações aconteçam, não é necessário ter antecedentes familiares do transtorno.

Seguindo as conclusões dos estudos sobre o tema, quando se compara a população geral com pessoas com antecedentes de depressão em membros da família em primeiro grau, vê-se que há uma maior prevalência do transtorno nesse segundo grupo.

No que diz respeito ao funcionamento dos neurotransmissores que se relacionam com a depressão, se esses se encontram alterados, pode ocorrer uma maior vulnerabilidade da pessoa para interpretar a situação ou acontecimentos que ocorrem ao seu redor de maneira negativa, ou inclusive a visão que possuem sobre elas mesmas.

O ambiente, um fator-chave

A depressão pode sim ser herdada, mas também temos que lembrar que a forma de pensar, a interpretação que fazemos das situações e as crenças e esquemas (que temos sobre nós e sobre o mundo em geral) também são aprendidos.

O ambiente no qual crescemos e nos desenvolvemos influencia de maneira direta a nossa forma de ver o mundo.

Por exemplo, se algum dos nossos familiares mais próximos, uma pessoa que temos como referência como o nosso pai ou nossa mãe, tem uma tendência a ver o mundo e as coisas de forma negativa, com manifestações verbais e atitudes ou comportamentos negativos, muito provavelmente a criança crescerá acostumada a esse tipo de pensamento, e terá talvez a mesma forma de interpretar o que a rodeia, tornando-a mais predisposta à depressão.

Então, a depressão pode ser herdada?

A depressão pode ser herdada no sentido de que a genética é um componente, mas ela é um componente a mais, não é o único e não é determinante. A interação de múltiplo fatores, como vimos, é o que dá lugar a esse complexo transtorno.

Os acontecimentos traumáticos de vida, como a morte de um ente querido, uma separação ou um divórcio, perdas em geral, mudanças importantes, etc. Tudo isso são fatores de risco que podem contribuir para o desenvolvimento de uma depressão.

Os estudos indicam que os fatores de risco mencionados podem elevar o risco genético que a pessoa possui. Por isso, a interação de todos os fatores é o que daria lugar a uma depressão.

As pesquisas que nos oferecem evidências sobre se a depressão pode ser herdada foram realizadas com famílias, irmãos gêmeos e adotados, para poder determinar a partir de todas as perspectivas possíveis se a genética e a herança biológica poderia ser um fator único ou determinante da doença ou não.

Hoje em dia todos os resultados nos levam às mesmas conclusões. O que parece cientificamente mais provável é que a depressão não é exatamente herdada, ainda que a carga genética tenha uma porcentagem de influência relevante.

Nos transtornos mentais, devemos sempre ter em mente vários fatores de etiologia e causalidade, que são os que determinam a origem de uma doença. Para o tratamento psicológico, isso é ainda mais importante e necessário, principalmente para intervir nos fatores que mantêm o problema.

Leia o texto na íntegra em A Mente é Maravilhosa






As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.