Com as mãos geladas e conferindo o horário minuto-a-minuto no celular, eu não conseguia pensar em outra coisa senão, na minha primeira entrevista com um político. Não um político de urna, ainda, mas, de nato ofício, sabe? Daqueles que não precisa de um cargo para exercer função. Conferi outra vez as horas e Goiânia nunca fora tão grande quanto naquela sexta-feira, 21 de junho.
A avenida Contorno, uma via importante do Centro da cidade, parecia ter ganhado o estado inteiro de Goiás de extensão. Eu que, normalmente, não puxo conversa com o motorista do do aplicativo, disparei a tagarelar. E por uma incrível coincidência, ele tinha o mesmo nome do meu entrevistado: Edward. Achei graça do inexplicável.
Quanto mais eu conversava com motorista sobre as referências cinematográficas de seu nome, mais o trânsito se congestionava entre sedãs, utilitários, buzinas e vozes. Um turbilhão de coisas passam por minha mente tentando formular imagens e cenas aos ruídos, uma vez que não posso fisicamente enxergá-las. Eu até quis chorar, por não me sentir apta a realizar importante tarefa. Eu abri o WhatsApp para me concentrar às mensagens trocadas com a assessoria do entrevistado, a fim de manter o foco e exercitar a inteligência emocional.
Faltando exatos 3 minutos para o horário da nossa conversa na Palavrear, uma livraria/cafeteria muito charmosa da cidade, desembarquei. Quase esqueci a minha bengala no UBER, mas o motorista me fez saber. Ufa! Ainda bem!
Então eu ergui a cabeça e me preparei para caminhar, amparada por minha estilosa bengala roxa que chamo de Frida. Entretanto, antes mesmo dos meus pulmões respirarem uma lufada de ar, ouvi meu próprio nome sendo chamado do outro lado da rua. Pode parecer exagero, querido leitor, mas toda a insegurança e conflitos existenciais que eu estava experimentando enquanto chegava até ali, se dissiparam naquele exato momento que ouvi o meu nome e então eu até me senti glamorosa ao fazer uma entrevista com uma pessoa que respeito e ainda mais numa livraria café.
Vamos à entrevista, mas antes vou falar um pouquinho do professor Edward Madureira, que disputa uma cadeira na Câmara Municipal de Goiânia este ano. Infelizmente não houve registros imagéticos de sua compleição, ainda preciso me habituar a pedir as pessoas que se descrevam para mim. Tudo bem. A gente se ajusta. Edward e eu nos sentamos em uma mesa com 4 lugares mais ao fundo da livraria para termos mais privacidade. Ao lado do professor, uma amiga e jornalista nos auxiliava. Ao meu lado, uma colega de faculdade. Estávamos frente a frente.
Edward Madureira é natural de Goiânia. Ele conhecido por seu envolvimento na educação e por suas propostas políticas voltadas à inclusão e à acessibilidade. E esta, claro, é a pauta da nossa entrevista. Segue, a transcrição que eu mesma fiz a partir da audiodescrição de meu celular.
JULIANA SANTHELE: Esta não é a primeira eleição que o senhor disputa. O que o motivou entrar na vida política e não desistir dela?
EDWARD MADUREIRA: “Bom, Juliana, Primeiro quero te agradecer pela pergunta. Eu acho que essa, é uma coisa que passa na minha cabeça o tempo todo. Por que entrar na política? Por que permanecer? Ainda mais sabendo que a política não é uma disputa com regras… Vamos dizer assim… As condições não são iguais para todos os candidatos. A gente sabe da influência do poder econômico e de outras estratégias que são utilizadas na política e a gente não compactua de forma nenhuma. Eu, particularmente, não compactuo com fake news, não compactuo com a campanha financiada por poder econômico ou por outro tipo de arranjo. Mas eu entendo que a gente chega numa certa altura da vida e a gente olha de que forma a gente pode contribuir para ter uma sociedade melhor. E eu não vejo outra forma de contribuir efetivamente que não seja pela política, porque tudo que a gente faz no dia a dia, está vinculado à política”.
JULIANA SANTHELE: Enquanto legislador, como construir junto aos cidadãos goianiense propostas de projetos de lei que garantam a promoção do respeito e valorização das diferentes identidades e condições como etnias, gêneros e deficiências na cidade?
EDWARD MADUREIRA: “Trata-se, Juliana, principalmente, de respeito ao ser humano em todas suas particularidades, seja pelo motivo que for. Essa pessoa é excluída de algum espaço, seja por questão de gênero, de orientação, de o que for. O poder legislativo tem a obrigação de acompanhar de perto isso e buscar alternativas para que as pessoas vivam a cidade na sua plenitude”.
JULIANA SANTHELE: Muitas crianças e jovens com deficiência enfrentam barreiras significativas para acessar o ensino básico. Como o senhor pretende incentivar e apoiar a promoção uma educação inclusiva no âmbito municipal?
EDWARD MADUREIRA: “Na Câmara Municipal, muito pode ser feito. A gente tem falado muito no nosso Cafezinho, que é o programinha semanal que a gente tem feito, do direito à cidade. Claro que ele trata da inclusão e aí a gente tem que falar de acessibilidade, a gente tem que falar de equipamentos públicos que permitam que as pessoas circulem e vivam a cidade na sua plenitude. A gente sabe das dificuldades que a gente tem no acompanhamento. A educação, mesmo hoje com a falta de profissionais, ela acaba que afasta as pessoas da escola por várias razões. Tanto as pessoas com deficiência, quanto outros segmentos da sociedade que são historicamente excluídos do convívio. E o vereador tem o papel de fiscalizar isso e é claro, de cobrar do executivo, políticas e adequações na legislação para que essas pessoas tenham o seu direito garantido”.
JULIANA SANTHELE: Se a candidata a prefeitura do seu partido ganhar, o senhor, caso também vença, a disputa para vereador, por óbvio, será membro da base e isso pode facilitar sua vida na câmara. Mas se porventura a candidata ao executivo perder e ainda assim o senhor conquistar uma cadeira no legislativo, como sua oposição será desenvolvida?
EDWARD MADUREIRA: “Bom, o meu estilo, Juliana, é sempre de construção. É sempre de buscar entendimentos. Então, uma oposição responsável, né? Uma oposição séria, baseada em evidências, na opinião das pessoas e um mandato de muita escuta, pode ter certeza disso. Serei a voz das pessoas que porventura me derem essa oportunidade de representá-las. Mas, sempre com muita responsabilidade e não da forma como a gente muitas vezes assiste no parlamento brasileiro. O parlamento caricato que as pessoas usam de estratégias muito apelativas para fazer o debate”.
JULIANA SANTHELE: De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Mais Goiás, a soma de quem votaria e quem pode votar em um candidato apoiado pelo ex-presidente, opositor ao Partido dos Trabalhadores, chega a 69%. Como que o PT enxerga a possibilidade de vir a conquistar uma cadeira na câmara, mas não obter o mesmo êxito com a prefeitura de repente?
EDWARD MADUREIRA: “Eu não posso questionar de maneira leviana uma pesquisa, mas eu trago a nossa reflexão aqui, fatos. O PT já governou a cidade 3 vezes. A pré-candidata Adriana Accorsi, tem tido uma aceitação extremamente positiva por onde eu tenho circulado. A gente percebe a leveza do nome dela. Ela traz a questão da segurança pública de forma muito clara. Ela tem um histórico de muita lisura em todos os lugares que ela passou. É uma candidata extremamente carismática”.
JULIANA SANTHELE: Edward por Edward. Se apresente para o eleitor goianiense…
EDWARD MADUREIRA: “Essa pergunta é uma pergunta de prova. Bom, Edward é um cidadão goianiense, nascido e criado aqui. Filho de funcionários públicos e que estudou na Universidade Federal de Goiás. Cursou agronomia, teve uma passagem pela iniciativa privada, mas a paixão pela educação o trouxe de volta para a UFG. Primeiro para fazer o doutorado, em seguida no concurso público. Na UFG me encantei também pela gestão. Tive a honra e o privilégio de dirigir minha faculdade, onde eu estudei por 8 anos e depois dirigi a universidade que eu estudei por 12 anos. Então, para aqueles que não me conhecem, eu sugiro que busquem um pouco na cidade de Goiânia, nos egressos da UFG, a minha trajetória. Os compromissos que assumi durante todo esse período à frente da UFG, foram sempre marcados pela inclusão, pelo cuidado com as pessoas”.