Em tempos de distanciamento social em função do novo Coronavírus, uma opção de entretenimento é a boa e velha leitura. E nada melhor do que ler algo leve, mas que também nos faça refletir, não é mesmo? Por isso, quero lhe indicar o livro “O Pai que era Mãe”, de Ruy Castro. Uma história de 1987, reeditada em 2001 e que continua muito atual. Especialmente no que se refere a invisibilidade do ser durante a maternidade, ainda que este ser seja um homem e não uma mulher.

O que acontece quando um pai descasado e namorador precisa assumir a criação de suas filhas adolescentes, além de todos os seus bichos de estimação? Numa época maluca onde as crianças e os adolescentes são adultizados e os adultos infalizados. A coisa toda, meio que, acontece dessa forma nessa comédia da vida pós moderna, cuja narrativa traz as alegrias e os dilemas do publicitário, quarentão, cheio de vontade de curtir a vida. Em seu grande dilema ele deseja se tornar a mãe de suas filhas.

Um enredo tanto quanto inusitado, não é mesmo? Seria, caso isso não abrisse espaço para uma interpretação mais subjetiva dos fatos e certos questionamentos: a interpretação de que a educação de uma criança em nossa sociedade, é tida como uma tarefa que tem de ser realizada só por mulheres. Sim. Você já se perguntou por que após o término do casamento, as crianças quase sempre ficam com a mãe? Por que logo depois do parto, a mulher vai perdendo sua identidade? Ela não é mais Maria ou Joana. Não. Agora, ela é a mãe de alguém.

O personagem de Ruy Castro não possui um nome formal na trama, o que sustenta a tese mencionada a cima. Pelas filhas ele é chamado de pai; os colegas de trabalho o tratam como cara; as namoradas, por sua vez, quase não possuem falas diretas.

“O Pai que era Mãe” é catalogado como infanto-juvenil, entretanto pode ser considerado um livro sem faixa etária própria. Pois tem um texto fluente e bem didático. Do tipo que a gente lê de uma vez só.

Para os leitores mais modernos, “O Pai que era Mãe” pode ser encontrado na internet para download de forma gratuita. Contudo, se você é um leitor à moda antiga, da era do impresso, e de quebra ainda quer colaborar com o trabalho do autor, encontrará o livro á venda em sites como Amazon e Submarino.

Que seja por diversão ou por curiosidade, esta é uma obra que merece ir para sua estante ou sua lista sem dúvidas!

Texto de Juliana Santelli. Juliana com J de jasmim, estudante de jornalismo na PUC-GO, que não veio ao mundo a passeio e que enxerga a vida por ângulos nada convencionais. Na falta de algo interessante para dizer, digo aquilo que acredito: os sonhos são como passarinhos: se não os alimentamos, eles voam.






Juliana Santhele é jornalista, jovem, negra, PCD. Colunista do Portal Raízes, ouvinte de podcast nas horas vagas, leitora do que chama a sua atenção. Autora do livro: "Entre Vistas" sobre a maternidade solo na sociedade brasileira pós-moderna (prelo).