Após um ano estudando juntas, mãe e a filha autista passaram juntas no vestibular da UFMS, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. E mais: ficaram entre as primeiras colocadas nos cursos de Geografia e Farmácia!

A duas já fizeram a pré-matrícula e aguardam ansiosas o início das aulas.

A dona de cada Elizandra Sila de Moura, de 47 anos, moradora de Campo Grande, queria realizar um sonho e também ajudar a filha a se preparar para o vestibular. Depois de “20 anos sem pegar em um caderno” ela voltou a estudar.

Pandemia

Já que estavam em casa, devido à pandemia, as duas aproveitaram o tempo para se preparar para as provas.

Eloisa Elena Silva de Moura Lima, de 18 anos e a mãe dedicaram todas as tardes para reforçar “pontos fracos”, com simulados on-line e trocando ideias sobre redação.

Elas fizeram as provas em janeiro no vestibular da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O resultado saiu na madrugada da última sexta, 5. A mãe ficou em quarto lugar para o curso de Geografia e a filha em segundo para Farmácia.

“Nos dedicamos e agora vamos entrar juntas na faculdade”, comemorou a filha Eloisa em entrevista ao G1.

Preconceito

A jovem lembra que as pessoas não a acreditavam nela por ser autista.

“Eu sempre ouvi da boca das pessoas e criei pensamentos errados na minha cabeça. Diziam que autista não entra no mercado de trabalho. Na época da escola, este era o meu estereótipo. Estava realmente desgastada nessa época, só que ainda assim tinham pessoas que acreditavam em mim, como minha família e professores”, relembrou.

Mas a autoestima melhorou com o resultado do vestibular.

“Há 3 dias, quando saiu o resultado por volta das 3 horas da manhã, eu a acordei e ela achou que fosse brincadeira. Nunca tive ninguém para corrigir a minha redação e mesmo assim tirei 950. É uma alegria enorme”, disse.

A família

Eloisa conta que o pai dela trabalha como caminhoneiro, o irmão mais velho, de 25 anos, já concluiu os estudos, trabalha, mas a mãe foi obrigada a largar os estudos.

“Minha mãe sempre foi a minha maior inspiração. Ela largou os estudos para nos cuidar e por isso a incentivei tanto. Quando saiu o resultado, falei pra ela: eu só te ajudei, isso tudo é o seu esforço. Considero tudo isso uma vitória e, quando falei da minha história, veio muitas mulheres e pessoas me pedir ajuda na redação. Vou fazer isso com o maior prazer, porque acho que educação é algo que todos devem ter acesso”, argumentou.

A filha agradece e a mãe também

“Parei o ensino médio com 16 anos, então ela se dedicou em mostrar os pontos chaves, em como fazer o melhor em uma boa redação. Tinha muito tempo longe da escola e, pra falar a verdade, não tinha nenhuma esperança, mesmo tendo o sonho de voltar a estudar”, ressaltou.

A questão financeira na época também pesou na decisão de parar de estudar.

“Minha família não chegava a ser carente, só que era a renda só do meu pai e foi necessário trabalhar cedo. Aí eu casei com 21 anos e, com 22, já estava grávida e meu primeiro filho teve problemas de saúde no pulmão. Por muito tempo, fiquei levando ele em hospitais”, contou.

Depois veio a filha autista que exigiu mais dedicação da mãe.

“Foi bem difícil também, porque passamos por inúmeros médicos até ter o diagnóstico. E agora estou realizando o meu sonho”, concluiu a mãe.

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Fonte: SNB






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