O fundamentalismo é qualquer posição de defesa de um conceito, ideologia ou doutrina, de ordem religiosa ou de outro tipo, de forma absolutamente radicalizada e fanatizada, sem qualquer análise isenta ou crítica.

“O fundamentalismo, o crer incondicionalmente, é maldito e pouco mental”

Bart D. Ehrman, historiador especialista em Estudos Religiosos, professor na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, em seu blog, escreveu sobre os perigos do fundamentalismo e disse que considera “o fundamentalismo, o crer incondicionalmente,  maldito e pouco mental”.

“Quando eu mesmo era fundamentalista entendia isso de uma maneira positiva. Pois nos círculos cristãos, fundamentalista são os crentes que mantêm os ‘fundamentos’ da fé por intermédio das Escrituras Bíblicas, a crença na plena divindade de Cristo, crença na Trindade, no nascimento virginal, na ressurreição física e uma coleção de outras doutrinas”.

Bart, começou sua carreira como um cristão fundamentalista que acreditava que a Bíblia era peremptoriamente a palavra de Deus. Entretanto, a sua fome de aprender tudo o que pudesse sobre o livro sagrado mais popular do mundo o levou a aprender grego e a frequentar várias instituições acadêmicas e suas descobertas, além conduzi-lo à uma vasta gama de conhecimentos, o levou a questionar e, eventualmente, rejeitar a visão de mundo que ele tinha até então:

“Fiz o meu melhor para manter minha fé de que a Bíblia era a palavra inspirada de Deus sem erros e que durou cerca de dois anos… Percebi que na época tínhamos mais de 5.000 manuscritos do Novo Testamento, e não há dois deles exatamente iguais. Os escribas os estavam mudando, às vezes de maneira grande, mas muitas vezes de maneiras pequenas. E isso faz com que você questione toda a estrutura histórica e as razões de se manipulá-la para o convencimento de seu público”, diz Bart.

Nenhuma crença, por melhor que pareça, vale um fanatismo

Você não deve crer incondicionalmente em coisa alguma: sempre há muitas coisas para investigar antes de se lançar por inteiro num “ismo”. Todo “ismo” é uma forma de manipular e colonizar o outro. É uma ferramenta muito eficiente no processo de tornar o outro um escravo voluntário: seja por intermédio de sua fé religiosa, seu ideal político, seus costumes socioculturais, seus anseios de consumo, suas opções de entretenimento.

Não se engane. Todas as coisas, assim como são apresentadas, estão muito bem engendradas para nos conduzir a fazermos exatamente o que querem: as redes sociais com aquela coleção interminável de vídeos de 15 segundos, ideia genial, para nos manter distraídos e sem tempo para questionar as problemáticas do mundo;  as mídias apontando sempre para qual direção seguir; as datas comemorativas e os anúncios brilhantes; as falas super acolhedoras dos líderes religiosos que nos fazem doar até o que não temos; as notícias falsas distribuídas à revelia pelas redes; o todo aquele marketing do processo eleitoreiro que faz a gente acreditar que pessoa X resolverá todos os nossos problemas.

Tenha suas crenças, mas não as coloque acima de quaisquer suspeitas. Tenha suas predileções por A ou B, mas jamais incondicionalmente. Porque, repito, nada, nem ninguém, por melhor que pareça, vale um fanatismo, vale a sua entrega total e inquestionável. A única coisa deve ser inquestionável é seu autor respeito e amor próprio.

Bart Denton Ehrman é um estudioso da Bíblia estadunidense com foco em crítica textual do Novo Testamento, o Jesus histórico e a origem e desenvolvimento dos primórdios do cristianismo. Ele escreveu e editou 30 livros, incluindo três acadêmicos. Ele também é o autor de seis best sellers do New York Times

Da redação.






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