De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ensino Social Profissionalizante (Espro), instituição filantrópica sem fins lucrativos, os jovens brasileiros estão mais estressados, cansados e preocupados com a saúde da família e com a renda financeira. Foram entrevistadas 13.619 pessoas – de 15 a 24 anos – em 18 estados do país, além do Distrito Federal. Segundo a pesquisa, 9 em cada 10 adolescentes e jovens estão mais ansiosos, mais cansados e têm tido insônia com mais frequência.

O filósofo e professor Luiz Felipe Pondé em entrevista ao Jornal da Cultura, falou sobre a saúde mental da geração Z, e como as redes sociais podem afetá-la. O professor elucida que os jovens estão mais estressados e intolerantes porque o mundo capitalista em conjunto com a sociedade, mentem sobre tudo para eles.

Ele cita o exemplo das empresas que fazem propagandas como se fossem democráticas, politécnicas, empáticas, preocupadas com bem estar de seus funcionários e engajadas em ativismos de proteção ao meio ambiente ou outras causas, mas quando o jovem começa a trabalhar naquela empresa, descobre que é tudo fachada. A empresa é opressora, exploradora e desumana.

Ele reflete também que as redes sociais corroboram imensamente com processo de descredito da humanidade, pois ali, segundo ele, é tudo mentira: “O Instagram e coisas semelhantes, só servem para mentir. Geralmente todo mundo que posta que está bem, está mentindo”.

De acordo com Pondé, há mais duas mentiras que o mundo tem contado para os jovens. A primeira é sobre suas habilidades:

“Fazem um risco na parede e pronto, já é um Picasso e se na escola a criança é questionada sobre aquele risco, os seus pais a trocam de escola”.

Dessa maneira a criança não aprende a lidar com experiência do erro, da frustração, do tédio, do aprendizado, da autorregulação, do autoconhecimento e da busca pelo seu melhor.  A segunda grande mentira que o mundo tem contado aos jovens e esta é bem cruel, é que a saúde mental deles importa. Segundo Pondé:

“A saúde mental é uma grande fronteira do Capital no século 21. E quando uma coisa se transforma numa commodity, como é a saúde mental hoje, ou seja, um produto, você nunca sabe quando alguém diz para você que você deve investir nisso, se a pessoa está dizendo que você deve investir cuidado ou dinheiro. E normalmente os dois vêm juntos. Então os profissionais de saúde mental crescem vertiginosamente e com isso, mais pesquisas e diagnósticos são feitos.

Eu dou aula há 26 anos na Universidade e nunca vi tanto aluno diagnosticado, que vem com diagnóstico. Então, isso atrapalha o universo porque é uma característica do capitalismo: não saber quando é um produto ou se de fato é alguma coisa que não é produto. A geração Z (nascidas entre 1995 a 2010) especificamente está nesse foco de que o mundo de fato é difícil e o capitalismo é muito violento… Cria aí uma dissonância cognitiva. O problema então, é que se mente muito pra eles e os jovens ficam cada vez mais intolerantes”. (Luiz Felipe Ponde. Transcrição e adaptação Portal Raízes)

Assista na íntegra no vídeo abaixo:






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